sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Como Ser Bom Aluno



A vigília e o sonho pelejam pelo domínio da consciência.
Quando se superioriza a primeira, abrem pela metade as janelas da alma e contemplam o Mondego silencioso, espelho das sombras da vegetação, cuja imagem o luar faz impactar sobre as águas esquecidas do rio.
Voltam a correr-se as persianas e o interior da habitação recata-se dos olhares perscrutadores. Não gosto que a impertinente curiosidade alheia penetre na inconformidade do meu lar, último reduto de segurança do eu.
A claridade começa a incomodar o revolto descanso e o primeiro sol da manhã depõe o seu beijo mais infante na planície mansa e seca de Castela, dando as boas vindas, com a força de um apertado amplexo, a um novo ano.

Ano novo, responsabilidades novas e acrescidas saturam o saco de quem, por pundonor de carácter, faz questão de bem recebê-las; de quem, por experiência, calos e maleitas semelhantes, não rejeita o que o ajudará a crescer; de quem faz por merecer o período de férias de que usufrui que, geralmente, por escasso peca.
A todos quantos viram neste interregno do “suposto” trabalho – considerando nesse leque, obviamente, o estudo – uma simples continuação da carência de atividade, não se incomodem muito mais nos próximos tempos – sei que não o farão; se até aqui não o fizeram muito teria que haver mudado para tamanho importuno intelectual assentar em tão ventoso terreno -, a vida tratará de vos pôr a correr; a menos que queiram ficar sem um pedaço de nádega.

Prosseguimos na nossa reflexão, mas não sem antes realizar um pequeno aviso: “Não me arvoro em especialista de nada. Sei que os próprios especialistas sabem pouco de muito e muito de pouco. O que aqui escrevo deve ser tratado e interpretado como um texto opinativo, um comentário no qual fazemos uso do bom senso e da experiência com a validade que a ciência e a Filosofia nos permitem”.

Evadidas, assim, acusações torpes e fundadas na ignorância que, sem custo algum, alguns indivíduos, neste Portugal de (des)fados, tentam fomentar avanço para a matéria em mãos e, nesta reentre de mais um ano letivo, deixo a minha contribuição, auxílio quiçá, a quem procurar ser um bom aluno e não apenas mais uma cara.



1.    FORÇA DE VONTADE E DETERMINAÇÃO


Ainda que a exposição que faço não esteja ordenada por relevância, o ponto que exploramos agora, no meu modesto e q.b. ponto de vista revela-se um dos mais fundamentais.
É de sublinhar a importância de não confundir determinação com teimosia e obstinação cegas, e até adulterada perseverança, que apenas levarão os seus detentores a bater forte com a cabeça numa parede, completando-se o episódio das possíveis consequências encefálicas, se ainda massa cinzenta saudável houver.
Esta qualidade, excecional tanto pela raridade como em jeito de louvor a quem a desenvolve, não nasce connosco; não é transmitida pelo espermatozoide mais ágil nem pelo oócito mais seletivo, muito menos por alguma cidade ou universidade, por muita história ou magia que o seu ambiente suscite – “Quod natura non dat, Salmantica non præstat”.
É semeada e cresce, se o terreno for fértil. Ainda assim, não deveis temer todos quantos achais que a vossa terra é estéril. Flora desta também encontra sustento nesses solos. Bastará tratá-los com devoção e cuidá-los com paciência. A seu tempo, resultados surgirão.
Como sabemos? O leitor saberá retirar as ilações respetivas.

A força de vontade tem um poder bestial. Dependendo do uso que se lhe queira dar pode-se fazer muita maldade ou criar um verdadeiro céu à face do planeta.
Hitler usou-a para levar a Alemanha a, livremente, elegê-lo como seu governante para depois retirar o Inferno do seu covil e impô-lo na Terra; Mandela utilizou a sua para colocar termo ao Apartheid e à separação racial.
O que considero um bom estudante, realizando uma prática consciente da sua força de vontade, deverá utilizá-la para derrubar o mais pantagruélico obstáculo, superar a mais desmoralizante dificuldade e a atingir a mais inesperada meta.


2.    EDUCAÇÃO E RESPEITO
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Entenda-se educação nas suas duas ramificações principais: estímulos intelectuais e morais proporcionados por progenitores interessados pelo desenvolvimento holístico da sua cria e regras de etiqueta cívica construídas já sobre alicerces probos sustentáveis.
Ambas interatuam e completam-se. Seguramente, o astuto leitor terá já apontado mentalmente a necessária relação.
Se no campo da determinação, as falhas costumam tê-las quem não cultiva esta favorável qualidade, no aspeto da educação, o erro encontra-se na conceção ociosa que têm dela certos papás. Pecado absolvido pela água benta aspergida pelas impreparadas curas de almas da sociedade.
A escola não serve para educar. Retocar, talvez, um pontual detalhe. Porém, o “grosso” da educação tem (chamamos à atenção do verbo utilizado “ter”, que não foi escolhido levianamente e não pode ser substituído por “dever” ou “poder”) de ser dada na atmosfera familiar. Deveria ser um imperativo; tal como as vacinas são administradas num centro de saúde ou hospital e os julgamentos realizados num tribunal.
Cada coisa no seu devido sítio, sem barafunda ou vozes ocas de cabeças em silêncio eterno, donas de um pedestal que não suporta o peso da insipiência.

Pela mão da educação vem o respeito.
Respeito por professores, por funcionários, colegas, amigos e pelo próprio espaço físico da escola.
Resumindo: respeito pela posição de aluno que se ocupa. E só é possível fazê-lo sabendo e pondo em prática as competências de um estudante. Nem todos podem sê-lo e nem todos deviam.


3.    INTELIGÊNCIA E TRABALHO

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Uma delas não é fundamental.
Ajuda? Sim.
Muito? Talvez.
É indispensável? De todo.
O leitor quererá realizar o, em Portugal louvado, exercício de adivinhação ou usará a razão que lhe reconheço para descobrir de qual das duas características descrevemos?
A inteligência, ou falta dela, quantas vezes usada como arma de arremesso para desculpar alguma dificuldade e, se formos honestos, alguma mândria e incapacidade para pospor algum prazer momentâneo e passageiro. Se se apercebessem que, por vezes, cumprindo as obrigações em tempo oportuno aguardariam recompensas que dão mais lenha à chama da realização pessoal.
Mas cada um tem as suas prioridades!
Com o que escrevo não quero dizer que todos estamos dotados com o mesmo tipo de inteligência ou conjunto de capacidades. Se assim fosse, tornar-se-ia o ser humano num animal monótono.
No entanto, se desafio houver que a inteligência não conseguir resolver, poderá ser ele ultrapassado ao utilizar a capacidade de trabalho. Trabalho na medida em que se procura uma solução para um determinado problema.
É, mais ou menos, óbvio que para um estudante, não sabendo como se processa o mecanismo de mitose e meiose, o trabalho traduzir-se-á em mais tempo debruçado sobre o assunto ou melhor qualidade do mesmo dedicado a esse tema.

A reflexão já vai mais longa do que o idealizado originalmente pelo que vou terminando ao deixar uns últimos pensamentos em relação a esta matéria.
A tudo o que enumerei devo acrescentar dois predicados mais: amizade e saber falhar.
Não é bom aluno aquele que atinge o sucesso vendo no rosto amigo a imagem do inimigo e no gesto de auxílio uma investida desleal sobre o seu ego; não é bom aluno aquele que troca a família e os amigos por um mísero valor a mais no bicho-papão da classificação final.
Tampouco pode ser bom aluno aquele que não sabe falhar. Falhar é humano e, a menos que neste planeta existam estudantes fora desta condição, aquela é uma lei universal. Quando se fracassa, a alma dói e o ego…, bem esse morre como Houdini, com um belo murro no estômago quando ainda não estava preparado.
Mas saber falhar, como a sabedoria popular apregoa, é “aprender com os erros”; ou numa formulação intelectualista “o erro detetado, analisado e corrigido é uma das mais poderosas formas de conhecimento”.
Aí tendes a importância de falhar e, sobretudo, de o saber fazer.
Não vale a pena afogarmo-nos em comiseração própria, presos à irrealista ideia de que ainda podemos mudar o que já não está nas nossas mãos.

Temos de seguir em frente, deixar para trás as águas escuras de um rio adormecido que nos virou as costas e aceitar a receção dos primeiros raios de um sol que não se esqueceu de nos sorrir.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

O Que Ainda Não Foi Escrito: "Carta" A Quem Nunca A Lerá



Debati internamente durante umas valentes horas, como haveria de começar esta “carta”. Bem, na verdade, não foi só esse o assunto que alimentou os meus demónios durante esse tempo; sanguessugas torpes que, sobre um corpo ainda jovem, insistem na recordação ingrata que mais energia consome ao espírito: o teu inocente sorriso.
“Carta” que coloco entre aspas, sinal em que deposito duas interpretações: uma, óbvia, a de este texto não se prender aos padrões vulgares a que nos habituámos a reconhecer num documento desse estilo; outra, originada, provavelmente, nos meandros do meu cérebro, de conotar esta produção de uma clausura conventual - abnegando-se o destinatário, por desconhecimento de existência, de que o seu conteúdo lhe roce a vista - expressada pela utilização do dito símbolo gráfico.
Desta forma, amarro, de novo, informação que até deveria ser tua.
O mesmo já aconteceu com as palavras que, suspeito, quisesses que não tivessem encontrado o muro dos meus lábios que, por privilégio de poder ser eu, acabei por erguer.
Suspeito? Sim, permito que a incerteza, desta vez, me vença, me leve a melhor. Não é da minha índole deixar que aconteça, mas refugio-me nela porque, se as suspeitas de correspondência não se confirmassem evito enfrentar um juízo errado da minha parte – forte arrebatador do ego -; se fossem ao encontro da verdade talvez não suportasse o peso da obstinada indolência que tive para contigo.
Deixo, assim, que o mistério envolva, com a sua névoa densa, a certeza do julgamento; que a ilusão do que poderíamos ter tido, ao ser várias vezes revisitada pela memória, se converta na magia de uma realidade alternativa que nos custaria rejeitar.

Talvez não devesse escrever no plural, explorando uma ideia de mutualidade que, mesmo desconfiando, honestamente, desconheço. Afinal de contas, se são praticamente inalcançáveis as intenções de uma mulher, as tuas, sei que as encerras cuidadosamente, precavendo qualquer sensação inesperada. Mas sabes, acontece que quanto mais tentas esconder um determinado pensamento, quanto mais o aplastas, o espremes contra uma das paredes internas da caixa craniana, tentando retirar-lhe qualquer réstia de iluminação que o possa colocar sob julgamento, mais ele procura uma fresta por onde possa escapar desse sufoco sobre-humano a que o submetes e tornar-se tangível.
Por entre as brechas que as mechas desses teus longos e inquietantes cabelos trigueiros deixam, viseira da gálea que armas na batalha, ainda sem fim, que os teus olhos cor de mel travavam com a minha negra mirada perscrutadora, deixas coar indícios que justificam as minhas suspeitas: convites, irrecusáveis assumo, que os teus lábios vermelhos faziam, para dançarmos baixo a luz rápida e trémula da noite, envoltos no ruído, noutra situação incómodo, naquela, hipnotizante e, consequentemente, amestrador dos instintos inibidos e das vontades imediatas; passeios em horas mortas, saídos de onde a esperança se dá e se tira num mesmo instante, pelos jardins da cidade dourada, discretos mirones que acompanharam, em sintonia, o despertar da nossa primavera deixando para trás o espírito pálido e invernal, e florindo de cor e belos aromas os arbustos nus, vestígios do passado frio árido e insípido; conversas atraentes  sobre uma mesa metálica, explorando com as mãos e em simultâneo a árvore da vida, lendo, fingindo, uns livros que, estou convencido, não explicavam a matéria do nosso estudo.

Avançados vamos nesta “carta” e só agora revelo porque te a escrevo: procuro confirmar as tuas conjeturas.
Não porque algum esgar do meu rosto não me tenha já denunciado e tu, aguda e perspicaz como te conheço, desenhada também a traços de subtileza, não tenhas captado essa evidência, ocultando a descoberta mordendo o lábio inferior, mas porque avocar à consciência as impressões desta história liberta-me, parcialmente, da carga de ter falado contigo sempre em silêncio.
Inútil intenção? Sem sentido, não? Ações como tal não se cobrem de razões para terem o seu lugar, o seu espaço. Respondem ao ímpeto das emoções, vigoram sobre o filtro do discernimento, superiorizam-se ao uso da razão pura.
As minhas mãos concorrem à cabeça, que as entremeia, o olhar perde-se na tortuosidade hesitante das palavras gravadas, aspirando a segurança reta das linhas vazias, a respiração torna-se oca e superficial e exibe-se a película novamente.
Sensações destas, temos que dar-lhes licença para percorrer as artérias do nosso organismo, chegar livremente aos órgãos-alvo e operar por nós numa dimensão diferente à costumada, não reproduzível pela vontade, mas pela invocação.
Não é assim que adiamos a loucura?; deixando-a insinuar-se ao exterior em doses frequentes mas pequenas?

Maldita cobardia a nossa!
Esperamos o movimento do outro para somente reagirmos, incapazes da ação incisiva exigida, esticamos a corda até ao ponto em que nos sentimos confortáveis, amparados; não arriscar nada, não perder nem ganhar.
O que podemos perder, na verdade?

À medida que vou terminando, apercebo-me do muito que fica por escrever. Matéria para nova “carta”? Veremos; só se renunciarmos à la douleur exquise artificial, produto de uma criação nossa.
Despeço-me, esperando que o que escrevo não passe de uma memória do engano…ou de um sonho e augurando que a conclusão desta história, daquela batalha, ficará adiada por mais um ano.


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Rebuliço Nos Lençóis


Estimado leitor, reconhecemos que a nossa ausência afigure no vosso coração uma traição que, tal como em dois recém-apaixonados que desconhecem a correspondência do sentimento, é obra da inesperada falta de atenção, cravando a frágil máquina vermelha de dúvidas e enchendo de tristeza a beleza das feições, de acrimónia as curtas e tímidas palavras trocadas e de angústia os pensamentos que, até então, a alegria se encarregava de administrar.
 Se por um lado, é este o cocktail que preenche metade do copo emocional, o restante vê-se tomado pela impotência, não sabendo o que fazer para poder reverter o estado da prometedora relação.
Não julgueis que apenas um dos partidos embebeda o espírito da complexa mistura que acima, a receita, patenteámos; mas ambos, ignorando que procuram o que o outro tenta esconder, partilham a mesma condição de paixão incerta e, lado a lado, cogitam as impressões que um no outro provocaram e estratégias para reconquistar os olhares que se supõem perdidos.

Vendo-nos nesta situação com o nosso leitor, tentaremos colocar peso no prato que nos corresponde, potenciando o pendor da balança para o flanco que mais favorável se nos revelar e seduzir o sorriso que, no primeiro encontro, galanteou a nossa chegada.

Numa noite quente - destas que junho apenas lança uma leve fragância sobre nós, mas que agosto satura o ar com o seu perfume, robusto e quente, fazendo-o bem presente ao cingir os corpos suados, cobertos mais pelo pudor que pela temperatura – originou-se um rebuliço na nossa cabeça que não tardou a manifestar-se pela descompostura dos lençóis.
Neste “mexe para aqui, mexe para lá”, à procura de algo sobre que incidir este texto, damos por nós em avançada reflexão e chegando às conclusões que, em três pontos, exporemos:

1.    A noite é mentora do escritor.

Possui uma influência que subministra o pensamento, um carácter que domina a inspiração, uma assertividade doce que guia a mão.
O silêncio, um sem-fim de vezes mal-entendido como um sinal de solidão, é a amizade predileta da noite.
Em contraste, o ruído, outro sem-fim de vezes injustamente percebido como manifestação de sociabilidade, vê-se subjugado por aquele quando o crepúsculo começa a assentar.
O pensamento só funciona verdadeiramente quando se consegue escutar a ele próprio; quando a consciência consegue encadear, com coerência, um par de ideias; quando a insonorização interior bloqueia a poluição sonora a que somos sujeitos pelo exterior.
E a escrita enceta por esse ponto; por um silêncio, relativo na sua presença e absoluto na sua essência - podemos estar rodeados de ruído mas, no espírito, imperar o silêncio, como podemos cercar-nos de silêncio mas viver numa revolução interna constante – a que o cair do sol dá preferência. O uso que dele se faça já dependerá da compostura de cada um.
Continua com o influxo da inspiração, que acaba por ser escrava da escuridão tingida pela ocasional luz de cadeeiro, que de qualquer janela se servirá para se estabelecer como pintura excecional em tela mundana, jamais abandonando a perceção de quem, somente por uma vez, a divisar, e no observador lavrar a impressão das grandes obras.
A noite controla-a, submete-a à sua mercê e envia-a a quem dela necessitar.
Os conselhos da noite encontram o seu termo quando o silêncio, pensamento e inspiração se combinam, se tornam um e, suave e decididamente, se transpõe uma ideia, um conceito, que até então flutuava pela dimensão do abstrato, para uma folha de papel ,concretizando-se pela tinta negra que escorre da caneta depositada na mão firme que a noite, com pundonor, mentoreou.
A todos quantos invocam o seu auxílio reconhecereis, não só, as valias que lhe gabamos, bem como, que não são mentiras o que escrevemos.

2.    A noite é companheira do leitor.

Confidente muda das palavras contidas, toma a Lua pela mão e como ela, serena e silenciosa, escuta os contos dos jovens corações inflamados pelo afeto e atemorizados pela dúvida, as histórias pulsáteis dos corações alegres e de angústia dos corações adormecidos na solidão; recolhe as lágrimas que escorrem pelo gesto dos corações contritos e afaga os olhos injetados dos corações inseguros; confessa os corações flébeis que pacificamente expiam quando se veem livres das amarras da enfermidade e, respeitavelmente, saúda o seu último latido
Dona dos sentidos ocultos e significados encriptados, cobre, segura, discreta e insuspeita, os segredos mais íntimos que lhe pedimos que, por nós guarde, envolvendo-os com o denso véu de estrelas que exibe no firmamento.
Na opacidade desse cofre desvela apenas que se cada estrela, decoradora primorosa do céu noturno, der corpo a uma confidência que alguém, à nossa semelhança, confiou à sua escuridão, o mundo inteiro reconhece-lhe as virtudes que lhe descrevemos como zeladora dos sussurros mais privados da humanidade.

3.     A noite é talismã dos apaixonados.

Assistente das conversas intermináveis, dos silêncios carregados de significado, dos beijos inocentes trocados no momento da despedida, a noite entrega ao coração a chave que o abre aos sentimentos de quem o experimentar apenas no seu todo. Coração que em momentos destes não se quer completamente fechado – fortaleza impenetrável de quem sabe que a dor se avizinha – mas, ainda que atento, vulnerável e disposto a sofrer por quem justificar o martírio.

A brisa noturna cicia as imperfeições dos apaixonados, despe-os da maquilhagem social e moral que exibem, expõe-lhes o núcleo mais genuíno para que ambos possam amar a totalidade do outro. Se forte, unifica-os no amplexo da cumplicidade; se fraca, enleia os dedos na possibilidade da descoberta mais profunda.

A noite mostra-se produzindo uma dualidade de impressões: o medo que se origina nas trevas, no desconhecido e o entusiasmo demonstrado por quem, com ela, se familiariza.

Esperemos que escritor e leitor alcancem inflamar a relação perdida pela magia de somente ser, sob a florida abóbada noturna.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Idiossincrasias Do Teu Nome


‘Se a noite sobre ti cair, aguenta, pois, não tarda, o dia virá ajudar-te a suportar o seu peso.’

Quantas vezes damos por nós desalentados, inertes e pouco firmes no espírito guerreiro e vigoroso que, no mundano dia-a-dia, de não caber em nós, contagia quem connosco troca, em sessão improvisada, umas amenas palavras?
Diálogo tão real, claro e honesto, sem maldade ou intenção oculta, que transparece as raízes que originaram e sustentam a índole rigorosa e doce da personalidade.
Mera idiossincrasia pessoal ou distintos traços de uma família?
Poderiamos debater a posição a adotar. No entanto, sabemo-nos, desde o início, partidários de uma das fações; e ainda que não revelemos qual canta melhor ao nosso ouvido, deixamos um lacónico comentário sobre ambas.

Se de uma marca pessoal se tratar não haverá, no tronco do qual derivou quem a revela, indícios de tal característica haver existido. Caberá somente a cada indivíduo receber as reprimendas e os gozos do que desenvolveu.
Porém, se carregarmos, em e na consciência o cunho de um nome, se no tronco estiver cravada a lembrança de um legado, a recompensa é oferta do passado e o castigo a ausência futura.
A todo o Homem lhe é permitido fraquejar; mas quando um se demarcou sempre dos restantes humanos por lidar com as situações infaustas com a espada em punho e a cabeça erguida, verá que as fraquezas, após sofrerem os duros golpes que a sua índole, pela lhaneza da memória e melancolia da saudade, desfere, não sustentarão o olhar bélico e curvar-se-ão, venerando, quem bravamente as arrostou.
Este respeito merece quem, mesmo vendo as mãos trémulas, não as esconde; quem, mesmo vendo o seu espírito recear, faz uso desse medo como combustível para atear o fogo incandescente que trará luz às trevas que a incerteza raposina depositou num coração enfraquecido.  

Não julgueis que falamos com intenções ocas. Fala quem viu que quando a poeira da batalha assenta, acham-se no que se tinha por debilidade a tenacidade e a força que ergue o guerreiro para nova batalha.
E o curioso… não aconteceu apenas numa só geração.
Guerreiros destes já não se alimentam de pão ou água, mas do orgulho de um nome. De um nome, à sombra do qual não caem, decrépitos e ociosos – afinal não foi a isso que lhes ensinaram -, mas pelo qual trabalham sempre para o manter, viçoso e imponente, aos ouvidos de quem o escuta.
Se brotaste do solo a quem o esforço deve a sua definição, e que a própria humildade tomou como exemplo, só podes crescer para perpetuar essas condições.
Lidemos pela alegria do pesar, por nossa alma, onde a sentimos, por nosso corpo, que a esconde, e pela delicada linhagem de pelejadores da qual nascemos.


sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O Que Ainda Não Foi Escrito: Preciso De Te Escutar

Fala-me! Estou perdido na névoa das minhas dúvidas, envolto nas trevas da incerteza. Conquistam a pouca claridade que desesperadamente peleja, numa batalha desequilibrada, com mais vontade que habilidade, pelo pundonor a que a saudade obriga. Hesitações que encontram o fim de uma linha, achada infantilmente sem paragem em mim. Mas aí o medo construiu a sua última estação. Abre portas às preocupações que assomam o coração e petrificam o vigor da reação. Na manhã seguinte, se o relógio parado não estiver, dá sinal de marcha, badala a partida de mais um vil comboio, que no crespúsculo, regressa fortalecido pela passagem de mais um dia.

Fala-me! Consola esta alma que outrora não foi capaz de te entender; esta alma que no momento em que encontrou a tua sabia que lhe iria pertencer… para sempre!
Devolve-lhe o sorriso pelo qual te apaixonaste na noite em que o arrancaste pela primeira vez. O sorriso alvo de criança inocente, espantosamente enamorada pelos estranhos esgares do teu rosto, reflexo inato do amor.
E as nossas gargalhadas? A minha saía enrolada, ingénua e contagiante. Via-se secundada pela tua, e juntas, raptavam as lágrimas de qualquer sala pela que retumbassem. Manifestação da cumplicidade a transbordar em nós.
No fragor da expressão éramos alvos de miradas carregadas de inveja e inquisitivas das razões que nos levavam a produzi-la; e a cada mau-olhado que sobre nós recaía repicava ainda mais ruidoso o já sonoro sorriso.
Por que não nos ouvimos agora? Perdi já algo nalguma etapa desta minha, mal iniciada, jornada? Será que mudei assim tanto? Ou apenas são novas as expressões para os sentimentos de sempre?
No teu olhar tenteio a resposta. Tento escrutinar o porquê do silêncio que entremeia os nossos corpos.

Fala-me! Agora sou capaz de te perceber. Podes não dizer uma palavra, mas fala-me! Corresponde esta minha necessidade de te ouvir com um olhar, com um suspiro, um sussurro… uma lágrima.
Não me deixes nesta estação em ruínas. Perdido, desalentado e sem saber que comboio me reconduz a ti.

Neste sítio reside o silêncio; pode que se o souber escutar, segrede o trilho que me leve a nós. Novamente!

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Hoje É Dia De Descanso



E se hoje nos livrássemos de fadigas, cuidados e tormentos, de tudo o que enruga a pele que, por ora, jovem se conserva, e sucumbíssemos ao repouso, para que o trabalho não se habitue a ver em nós escravos dos seus incessantes pedidos?
Sabemos que muitos dos corpos que se encarregam de conduzir a lavoura com consistência, honestidade e integridade frequentemente colocam objeções ao descanso, por muito necessário que se revista e merecido lhes seja. Vêem nele uma não sei que fraqueza, uma tibieza de espírito que não emparelha satisfatoriamente com o pundonor que cunha a sua conduta.

Porque achamos que a maioria dos mortais merece o sossego e tranquilidade que uma poucas horas de lazer proporcionam, a nossa reflexão de hoje, lacónica que pareça, esconde, porventura, o tumulto que a autoanálise no âmago, incrustado de aparente indiferença, a custo procura manter tão serena quanto a consciência dos levianos. Quando se ergue o espelho e nos colocamos frente a uma perspetiva diferente, afigura-se uma imagem à qual os nossos olhos, geralmente, são cegos.
Como muitas boas pessoas fizeram connosco, permitam-nos os leitores cônscios, que o façamos convosco, e exibamos a reflexão do vosso eu.
Desta forma, terminamos com a questão:

“Mereço descansar?”

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: No Sítio Certo



Façamos um exercício… de imaginação para uns e de memória para outros, e vejamo-nos em Paris. Cidade do amor, capital da moda, destino de sonho; mais especificamente no edifício piramidal do Louvre, no salão onde se encontra uma das mais célebres pinturas que a história da arte e da Humanidade já teve a sorte de conhecer. Falamos, claro, de uma das obras mais emblemáticas de Leonardo da Vinci, a Mona Lisa.
Que adjetivos qualificariam dito retrato?
Hediondo? Estranho? Enigmático?
Magnífico? Magistral? Magnânimo?
‘Sete vírgula dois’ milhares de milhão de pessoas que poderiam descrever a mesma peça com igual número de adjetivos.
Mas será que o ambiente em que se encontra a tela tem influência sobre a nossa percepção dela?  

Como resposta lançámo-nos o repto de realizar a manobra mental de conjeturar uma realidade em que esta pintura fosse retirada do justo lugar - alcançado pelo talento do artista e da excelência do quadro – e do contexto parisiense – que se apenas por fotografias absorve quem contempla, o que não fará ao observador in situ - e a encontrássemos na parede vil, vã, nua de história, adornada com sangue inocente, restrita a visitas, de uma qualquer habitação construída com dinheiro, desonestamente ganho, de um lorde dos negócios dúbios.
Como seria se La Gioconda não estivesse disponível aos olhos de quem cativa, de quem sobre ela canta ou de quem sobre ela escreve?
Como seria se não estivesse enquadrada pela moldura de Paris e a sua cultura?
Resumindo, como seria se não se encontrasse no sítio certo?

Recorremos a outra analogia, mais simples, com o intuito de reforçar a ideia que pretendemos estacar.
Onde se afigura mais atraente a mulher? Na monotonia dos corredores de um supermercado, envolta num traje destinto, lavado pelas amarguras da vida que de verdade vive?; ou na fila do cinema, vestida de cores e elegância, cuja ilusão dos contornos se despe do título de truque e se transforma na transparência que é ver magia pela primeira vez e, por esta mesma razão, sabermos que essa imagem não vai além daquele momento?

Como acontece com os exemplos que apresentámos, acontecerá, certamente, em todos os que o lúcido leitor deve ter feito rolar na estrada do seu pensamento.

Ora, algo semelhante, acreditamos que ocorre com os vocábulos que empregamos nas reflexões que produzimos e em todos os demais textos que por deliberação de um coração frágil apenas revelamos, pela cumplicidade que lhe devemos, à folha que os escuta.
Cada palavra encerra variadas e sempre distintas aceções, cuja descodificação apenas deve ser feita sob o fino crivo da razão aliada à capacidade de considerar, na análise, todo o conjunto de ideias e outros termos que a envolvem.
Este ensejo justifica o não gostarmos de ouvir que usamos palavras caras, ou difíceis, que se podem ter perdido na ferocidade que o tempo, uso, memória e ignorância desembainham para utilizar como arma, corrosiva do espírito desprovido de escudo que o defenda, e esquiva do corpo que não acautela a sua investida.
Cada vocábulo, cada expressão, cada frase e parágrafo são redigidos com propósito, cuidadosamente escolhidos e inseridos num determinado ponto para proporcionar fluidez e coesão ao texto e coerência à nossa linha de pensamento.
Ambos são revisitados amiúde, revistos e corrigidos. Assim o fazemos porque pretendemos trabalhar no melhoramento da qualidade dos mesmos, obrigando-nos à constante aprendizagem que o nosso brio demanda, tal como as fraquezas do infante reclamam para si a contínua atenção de seus pais.

Alguém muito especial para nós, um dia disse-nos: “Na língua portuguesa não existem sinónimos; existem palavras cujo significado se assemelha a outro, mas cada uma delas deve ocupar o seu espaço e o seu tempo ”.
Esta mensagem ressoa em nós como trovoada em extenso campo aberto. A cada letra que a nossa mão desenha repercute-se mais límpida e inteligível; a cada palavra que completamos mais robusta e vigorosa; a cada oração, gravada até ao fim com a mesma meticulosidade de um escultor renascentista, mais viva e fecunda.

A Mona Lisa mereceu o Louvre. A rapariga bonita mereceu a ida ao cinema.

As palavras merecem, também, o seu sítio. Não um qualquer, mas o sítio certo.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: O Nada Que Tudo Diz


Sobre que escrever quando o procurado tema, contido numa garrafa de vidro, navega à toa pelo cinzento mar de neurotransmissores e não encontra receptor postsináptico? Sobre que escrever quando o génio não encontra inspiração ou musa que a sua chama acenda?

A resposta refugia-se nesse mesmo mar. Apenas é tomada por correntes distintas e termina dando à costa e aí descansa… até que, após uma breve mirada pelo areal, recorrendo a linha em que abraça a água, sobre o sol poente, semicerram-se os olhos de desconfiança ao ver a cristalina vasilha.
Devagar, levantamo-nos. Sacudimos a areia que o suor obrigou a colar-se à pele e aproximamo-nos do local onde jaz a garrafa que, ocasionalmente, é banhada pelas ondas que carregam as lágrimas da nossa nação.
A medo, receosos da mensagem reservada, da solução por achar, invertemos a garrafa para que, sobre a palma aberta, caia a dita.
Recorremos as curvas do papel, humedecido pela ânsia da descoberta, com a pálida polpa dos trémulos dedos. Desenrolamos atentamente o tesouro que aguardamos e… eis que se revela o segredo. Nada! Vazio. Em branco!
Saímos desiludidos daquele momento. O desalento que se origina da espera. “Quem espera sempre alcança”, querem fazer crer; pois nós descobrimos que “quem espera, desespera”. Abre-se a porta à descrença, à deceção, ao desengano.
Aguardávamos umas quaisquer palavras, cifradas talvez, que nos guiassem; que nos conduzissem ao texto que queríamos escrever. Nada, apenas uma não menos críptica brancura suja num papel cuja reflexão escarlate acentua as marcas da passagem do tempo e das provações por que passou.

Desistimos, podemos dizer. Sem saber sobre o que escrever pensamos em não refletir esta sexta-feira à noite.
Vamos mas é sair!” – tentámo-nos convencer. “Dançar até que o zumbido nos ouvidos se escute mais nítido do que a música de fundo; até o primeiro sol do dia entrar pelas portas do bar; até que a distância que nos separa da rapariga do vestido amarelo no início da noite se reduza à cumplicidade de uns dedos em comunhão quando se levantar o crepúsculo da madrugada. Quem sabe, estando a musa encontrada, a inspiração virá com sua amiga.”

Mas quando se quer e procura… acontece que no momento de maior necessidade, os até então adormecidos, preguiçosos inclusive, residentes da caixa craniana, também conhecidos como neurónios, lá encetam o seu trabalho, e da mina de ideias, ainda por explorar completamente, extraem uma pequena peça da qual nós podemos fazer uso.
E BUM!; já quando decidido o nosso destino na sexta-feira estava, conectamos os pontos e damos sentido ao papel que achávamos vazio.
Concorremos à escrivaninha, na qual assentamos os nossos escritos, e percorremos com o olhar as suas gavetas até à que resguardava a folha.
Pegámos nela com as mãos firmes e rosadas, e perscrutámos novamente o seu conteúdo.
Em branco ela seguia, mas essa era exatamente a resposta que procurávamos.


Apercebemo-nos que o branco era uma oportunidade; o vazio do qual se cria, a ausência do que se torna presente; o nada que tudo diz.

terça-feira, 11 de julho de 2017

O Que Ainda Não Foi Escrito: Trovoada

O descampado que os olhos quase se esquecem de ver, espraia-se desde a janela do meu quarto, por largos metros - talvez uns poucos quilómetros -, até três mal distintas casas. Pelo que a visão alcança devem ser escaninho de toda a população da aldeia vizinha. Perdem-se os seus contornos pela chuva que eleva o característico odor que os terrenos molhados encerram até que um choro dos céus liberta a sua verdadeira essência. O aroma entra pela janela semiaberta e com ele traz a tristeza e a neblina que se abatem sobre esta noite de julho.
À névoa, que já deixava a noite vaga, aliam-se os relâmpagos que tornam a escuridão em clarões de trevas.

Hum…engraçado. Entre o retumbar dos trovões recordo ouvir, esta manhã, alguém comentar a vinda de mau tempo. De certeza que alguém já nevado, em colóquio de rua, ao encontrar uma cara amiga que partilhe com ele um esboço de sorriso, teria previsto a vinda da tempestade. Um dos seus joelhos a havia sentido, dizia. E a rapariga acenava afirmativamente a cabeça.
Já eu… eu não podia acreditar! Com os meus olhos via o sol raiar e, com o passar da manhã, o céu a tornar-se cada vez mais límpido e azul; com os meus ouvidos, escutava crianças cantarem a alegria de o serem e a doce voz da moça que, com o velhinho, trocava impressões sobre os fenómenos atmosféricos; com o meu tacto julgava as texturas que o calor empresta ao ar. Naquele momento, nada me faria crer numa reviravolta meteorológica.
Mas não é que a enferma articulação tinha acertado?!

A alma é bendita quando arrostamos a ignorância do nosso conhecimento e amaldiçoada quando o obstinado conhecimento não é suficiente para a reconhecer.
Serei tão tonto assim? Arrogante e incapaz de esgueirar-me da bolha egocêntrica em que me suponho e ouvir um velhinho na rua, cujas preocupações se dissipam na bondade de oferecer-lhe o meu tempo?
A rapariga sabia o que fazia. Libertou-se das correntes que a sobranceria impõe. Deixou de ser prisioneira da azáfama do dia-a-dia e dispôs do tempo para compreender a felicidade ao trazê-la aos outros.

Os nimbos desfazem-se em grossas lágrimas. Dançam com as aves noturnas, errantes por abrigo que as acolha, até beijarem o chão que as recebe.
Porque choras, céu? Pela insolência que este dia expôs?; pela crueldade da indiferença que mostrei a quem só queria tempo?; ou pelo idealizado namoro que, pela falta de audácia, se viu, antes de começar, no fim?
Porque gritas como uma mãe a quem arrancaram o seu menino dos braços? Gritas enfadado comigo, castigando os meus pensamentos obstinados?; gritas revoltado por saberes da solidão em que se vê mergulhado o pobre homem?; ou gritas de raiva por seres consciente que os anjos mais bondosos serem os que carregam os maiores problemas?

Caramba, ela não me sai da cabeça
Hum…engraçado! Uma estrela começa a espreitar no firmamento. A primeira da noite. E ainda há minutos bradou o cosmos e são…três da manhã!
Não sei se foram apenas as impressões que o rosto dela, em mim, cunhou ou se o ideal de mulher que infligiu, mas ela não me deixa a mente tranquila.
Quem se pode esquecer dessas mulheres que com um sorriso atacam diretamente o coração; que com um relance do olhar atiçam as borboletas já despertas pela sua figura; que, pelo suave gesto cativam a atenção de quem despende um segundo a contemplá-las; ou que, pela candura da conduta penetram a bolha egocêntrica com uma violência tal que a obrigam a implodir.

Olha, as nuvens começam a abrir! E, tímida, lança a lua os seus primeiros feixes de luz, ainda de soslaio, acompanhada de um coro de astros. A manhã, não tarda, começará a fazer-se sentir.
Interessante como uma desconhecida pode operar uma mudança interior com a força desapercebida do seu proceder. Algo tão simples, algo tão elegante!

Seis da manhã e não preguei olho!
O sol esforça-se por fazer esquecer que, de madrugada, a trovoada se fez sentir. O céu exibe um gradiente de tons de azul que vão desde o azul-escuro, carregado, quase negro da noite, ao azul-alaranjado, claro, vivo, de uma manhã de verão.

Hum…engraçado como o tempo trabalha!