sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Reflexões De Sexta À Noite: Não Te Arrependas De Te Teres Arrependido!

Alcançar o derradeiro momento sem carregar às costas a cruz do arrependimento é um contrato que a maioria de nós não leria duas vezes antes de assinar. Solicitávamos o empréstimo duma caneta e num piscar de olhos a nossa rubrica luziria, inequívoca, sobre o papel.
 Poder chegar ao término vital sem ter aquele pequeno, chato e inoportuno grilo na parte de trás das nossas cabeças a estridular, como quem recita uma infinita lista, a totalidade dos nossos enganos, erros e falhas seria um sucesso que nos levaria com um brilho nos olhos e um sorriso nos lábios. Mas será que aconteceria como relatamos?

Não nos parece que tenhamos que envelhecer muito mais para nos apercebermos que o que descrevemos não acontecerá. Não somos os maiores crentes no destino, mas duvidamos que para alguém esteja guardada essa ocorrência.
Sempre que uma decisão necessita de ser tomada, e nós como guias desse juízo, está-nos fadada a possibilidade da lamentação e, para uns poucos, a capacidade de deliberação sobre as condições que nos levaram a optar pelo rumo que adotamos e o porquê das consequências serem as que nos aguardam. Ou, quiçá, pior: o porquê de termos tomado a decisão de, simplesmente, não optar.

Conduzir a nossa existência a salvo de contrição seria um indicador de uma cabeça vazia ou de um ser humano perfeito. Como não há registo de alguma vez termos encontrado semelhante entidade, excetuando na elevada conta que determinados indivíduos se ostentam, a opção que permanece, deverá ser a verdadeira.
Quem faça uso da sua consciência – uma das mais perigosas armas que a humanidade desenvolveu e das menos e pior utilizadas – facilmente concluirá que o arrependimento é de ocorrência fácil e que não tem de encerrar o significado negativo que lhe é atribuído.
Só se arrepende quem decide, quem busca na firmeza de carácter o melhor procedimento a seguir. E a inevitabilidade de que as más decisões nos encontrem durante o percurso e que nós não as saibamos reconhecer está sempre presente. É aqui onde descobrimos que o arrependimento não abriga somente uma faceta tenebrosa. Afinal, o sol, mesmo pela mais pequena fresta, consegue refulgir onde a sombra domina.
Quando a resolução encontrada se revela desditosa, infausta ou impróspera é quando temos oportunidade de aprender. E quanto mais novos somos mais espaços temos para preencher. E assim se explica que a maioria das nossas dores sejam contraídas nesse período onde o sangue é novo e quente, a cabeça imprudente e o orgulho…demasiado.

E ainda que seja fundamental ouvir a experiência dos mais velhos, a quem o tempo e o sofrimento se encargou de encanecer os cabelos outrora trigueiros de juventude, há certos ensinamentos de que se tem de encargar a nossa própria vida de transmitir. Há situações, há factos que não podem ser contados; têm de ser vividos. E vão nos custar. Caramba, se nos vão custar.
E neste momento, enlutado o espírito, em vão, procuramos reprimir aquela voz que nos castiga. Arrependermo-nos por algo que fizemos pode pesar imenso nos ombros, mas supera-se ao longo da viagem. Todavia, arrependermo-nos do que não fizemos ou dissemos mas que sabemos que devíamos ter dito ou feito deixa o vazio que nada ocupa, deixa a cicatriz que nem o tempo cura, deixa a revolta que nem a memória apazigua.


 Reconforta saber que ainda que o sol amanhã nasça, a brisa de ontem estará, eternamente, connosco.


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Reflexões De Sexta À Noite: Guia Para Se Ser...Vencedor



Começa a vacilar a vontade de escrever. Atribuímos este estado, sobretudo, à falta de temas que nos movam a executar este distinto afazer.
Os raios de sol, que a janela do escritório cruzam, decompondo-se, sobre a escrivaninha, num harmonioso arco-íris, deveriam trazer ao sombrio escaninho da nossa imaginação alguma luz capaz de fazer medrar a planta que dá a colher como fruto algum plano que desafaime a fome de ideias por que atravessamos. Ou o tempo de estio seca qualquer planta que tencione ganhar o vivo verde da vegetação sadia ou o terreno de cultivo é, por descuido do seu senhor, baldio.

 E não temos de trazer etiquetada a vergonha de assumir tal situação. Não nos sentimos tentados a dizê-lo com os lábios semicerrados – ou semiabertos dependendo da perspetiva filosófica de cada um - na tentativa de emascarar que a nossa resolução atinente às férias, à medida que nos aproximamos do seu termo, se vai esmorecendo.
Talvez se trate de uma associação que o nosso cérebro faz: setembro aproxima-se, o tempo a partir desse mês tornar-se-á escasso e assim, como que antecipando uns dias o inevitável, adverte que a frequência das publicações diminuirá – ainda que todos saibamos que a última oração encripta um “até para o ano!”.

Todavia, o auspício declarado só se verá concretizado quando o vigor da nossa estrela, desmaiado estiver, quando as folhas de tons tanados se cobrirem, prostrando-se no solo, como que convidando à entrada de uma nova estação e quando as trombetas tinirem sons de boas-vindas a mais um ano escolar. 
Até lá, até esse dia nos badalar a campainha de casa, a possibilidade de fazermos companhia e proporcionar uma casquinada a algum dos leitores anima-nos a completar este, autoproposto, repto.
Assim sendo, imergimo-nos no espírito olímpico e tal atleta que, esforçando-se ao limite das suas forças para rematar a corrida, também nós, munidos da tenacidade de escritor, almejamos concluir a nossa “maratona”.

Aproveitamos, já que tocámos no tema “Jogos Olímpicos” (JO), para o desenvolver nesta reflexão. Desde já, advertimos que não somos especialistas em nenhuma das competições olímpicas nem pretendemos, deslealmente, pousar como tal. No entanto, somos seres humanos e reconhecemos que alguns dos eventos ocorridos no Rio de Janeiro, servem para arrotear os nossos corações para as jornadas de paz que esta competição deve constituir.
Os Jogos Olímpicos têm a sua origem na Grécia Antiga sem que uma causa concreta achada seja para justificar a sua criação. Acredita-se que a sua constituição seja resultado dos princípios e valores gregos que indicavam que uma boa forma física e disciplina mental honrariam e deixariam Zeus satisfeito.
Mesmo sendo um conjunto de disputas onde concorre a competitividade, o período em que ocorria era cunhado pela paz e quietação dos ânimos entre as nações envolvidas nas Olimpíadas.
Este período era tão importante e os seus fundamentos tão respeitados que a maioria das cidades – entre elas Sparta, uma cidade fortemente marcada por uma política bélica estrita – declaravam tréguas e só enviavam os seus guerreiros para a liça após o termo da competição.

Destes JO’2016, enumeramos alguns dos momentos em que o Homem desceu da sua própria conceção enquanto ser infalível e se elevou ao pódio como ser humano.

- Numa das inúmeras corridas que as Olimpíadas acolhem, uma corredora americana sofreu uma queda, arrastando consigo uma das competidoras neozelandesas resultando numa aparatosa situação. Após este episódio, a atleta da Nova Zelândia ficou lesionada sem se conseguir levantar do chão. A atleta americana só continuou a sua prova após assegurar-se da segurança da sua companheira. Ambas estarão na final.

- Um atleta francês de salto à vara é vaiado pelos “adeptos” presentes, na cerimónia de entrega de medalhas que consagrou o atleta “da casa” com o ouro olímpico. O competidor francês, prata no salto à vara, no momento em que recebe a medalha, é assobiado e insultado pelo público presente, ao ponto de não conter as lágrimas. O atleta brasileiro, campeão olímpico, pediu à assistência que respeitasse o colega e, quando mais ninguém o fazia, este aplaudiu o atleta francês.

Ficam entregues alguns exemplos que espelham o espírito que os jogos de união desejam impregnar na medula dos seus seguidores. Como estes, muitos outros poderiam ser expostos. Exemplos que deixam a nu o que o artificie desta competição desejava estabelecer.
 Ainda que alguns dos atletas que demos como exemplo tenham ganho uma medalha ou ainda estejam a competir por uma, outros, que mostraram a coragem, o arrojo, a ousadia de, em tempos como os que por nós passam, assumir atitudes e comportamentos que desmantelam a ideia de um mundo congelado na humildade, na gratidão e na amizade, somente capaz de crescer adobado pelo ódio, pela discórdia e pelo terror.
Muitos deles não estão no pódio por se demarcarem dos restantes pelas competências físicas, pelos records mundiais ultrapassados ou pela excelência com que executaram as suas provas; mas sim pela humanidade que trazem às pistas de atletismo, pela amizade que emerge das piscinas olímpicas e pelo exemplo que deixam na arena dos pavilhões desportivos.
Estes saem dos JO’2016 com a dourada medalha de campeões dos Homens, felizes por terem imprimido os seus nomes nos livros de modelos a seguir.

Faustos são aqueles que transformam a vida dos outros com gestos simples e impercetíveis mas que abrigam um significado histórico com repercussões tremendamente positivas.
Faustos são aqueles que não olham unicamente ao seu propósito mas que sabem englobar, no seu projeto, o sorriso dos outros.  
Faustos são aqueles que baixam os olhos para auxiliar quem, nos seu olhar, encontra alento e, a nas suas mãos, apoio.


Meninas e meninos, este é o guia para se ser… vencedor. 

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Reflexões De Sexta À Noite: A Fé Que Nos Irmana


No dia 18 de julho encetámos uma expedição que, dificilmente, seremos capazes de permitir que caia no esquecimento ou que, por languidez do espírito, permitiremos que não seja concluída. Não puxará pela nossa capacidade de resistência física, não exigirá os mais brilhantes velejadores, mas reclamará para si toda a nossa firmeza de carácter, de modo a que nos mantenhamos inabaláveis na fé que professamos.
No já mencionado dia, partimos para as Jornadas Mundiais da Juventude em Cracóvia.

Na Polónia, fomos recebidos por um povo que, na mente, suporta o sofrimento, a dor, o sacrifício… a morte mas que, no relicário incrustado no peito, guarda a paixão, o amor, a fé em Deus… a vida.

Um povo que não tem medo de manifestar ao mundo a sua convicção em Cristo vivendo o catolicismo com energia nos músculos, alegria no sorriso e candura no olhar.

Uma forma de viver a fé que surpreende, prende, convence e vence.
Sabemos que incorremos no pecado da inveja ao escrever o que se segue. No entanto, acreditamos que este ser-nos-á perdoado pois seria maior falha não admiti-lo quando é merecido: uma forma de viver a fé que invejamos e que gostaríamos de adotar.

Desejamos as danças capazes de arrancar ao maior pé de chumbo um convicto movimento de anca, as músicas que extraem do desafinado a afinação que ao amor encanta (que o amor precisa) e a paixão que enlaça um grupo na amizade que nos irmana a Jesus Cristo.
Queremos liberdade para nos avocarmos como seguidores instruídos da palavra de Deus sem que de olhares maninhos de quem não compreende e não conhece – e que, infelizmente, também não procura fazê-lo – sejamos alvo. Devemos querer não temer essas miradas de quem faz juízos de valor sem perceber e devemos querer o arrojo de aceitar a missão de sermos trabalhadores de Cristo num mundo tão resignado e a transbordar de passividade – clamam saber os inconvenientes que a mudança produz ao humano corpo mas não cuidam do bem que gera nas humanas almas.

É pelo que descrevemos que as JMJ deixam um cunho indelével no coração de quem as vive. Aviva a chama do Espírito Santo em nós!
O escutar cerca de dois milhões de jovens – e não nos referimos a uma juventude cronológica mas a uma espiritual que permite ao organismo mais derribado pela passagem do tempo suportar os longos quilómetros, o calor sincopal e a duvidosa alimentação – a rezar numa coletiva…unidade, de mãos entrelaçadas e de olhos postos e corações entregues ao Céu a oração que nos foi ensinada pelo Filho, gera no nosso espírito a inconformação necessária para iniciar a transformação que o Papa Francisco nos pediu.

Na efemeridade dos corpos e no evo da alma fica gravado o relume que, na miríade de velas, tinha a sua origem mas que no seio de um catolicismo aberto e ponderado encontrou onde produzir o seu efeito. O de, sem fanatismos, esboçar um mundo onde a paz e o amor entre as nações possam ser alcançados, procurando extrair a bondade, a humildade e a humanidade que temos em nós e que o próximo encerra em si.

Escrevemos esta reflexão desde Portugal mas desengane-se quem acredita que já regressámos…ou que algum dia o faremos. Temos uma missão que ninguém pode realizar por nós: a de mudar o mundo para garantirmos o nosso futuro, o futuro da Humanidade.
Esta não foi unicamente uma viagem à Polónia. Foi também uma viagem ao íntimo das nossas convicções.



sexta-feira, 8 de julho de 2016

Reflexões De Sexta À Noite: O Hitler Também Deu Aulas De Ténis





Ao longo da semana de um estudante em férias bastantes são os problemas que invocam a atenção do espírito absorto, adormecido pela incessante e apática atividade do lazer sem propósito. Nessa lista, podemos encontrar as seguintes ocupações da mente:
1.  a que horas nos levantamos amanhã?;
2.  a que horas nos deitamos hoje?;
3.  a realização de que uma e outra hora, geralmente, são co dependentes – com a exceção, claro, das situações em que a matrona desejar limpar a casa e, sem compreendermos exatamente as razões que justificam o seu comportamento, insiste em começar pelo nosso onírico reduto;
4.  (após acordar às 12h30min) ainda tomamos o pequeno-almoço ou o almoço é a refeição que se segue?
5.  Etc.

Obviamente que há mais grandes questões da vida ferial de um estudante. Estas são apenas umas poucas que reconhecemos que aporrinham o tutano que ainda resta à juventude, trás manhãs e manhãs de copiosas émeses e banquetes de ácido acetilsalicílico.
Estas são as lidas que, na nossa memória mangona, ousam soçobrar o pasmatório em que a nossa escátula de neurónios se converteu nesta época de cálida languidez.
Como resultado esperado do mencionado anteriormente, o encargo de parir uma tese para a reflexão desta semana, exigiu um assalto ao cofre da imaginação e, como não desejamos que o nosso lazer cruze os maninhos trilhos terrenos sem um rumo, a custo extraímos o que aqui se lê.

Uma reflexão semanal, considerando que publicaríamos sempre à mesma hora, está composta por 168 horas ou 10079 minutos de preparação, – retiramos um minuto que equivale ao período necessário à partilha do texto no grande livro digital - que se dividem entre surgir com inspiração e produzir o texto. Ambos os componentes aduzem-se com as suas problemáticas porém, ser bafejado pela brisa protetora dos grandes autores – e das grandes editoras - não toca a todos nem faz adejar os longos cabelos dos modestos escritores de fins-de-semana e feriados – deixamos a seguinte exceção: pode acontecer àqueles que, ao banharem-se, amimem a sua massa capilar com Pantene Pro-V.
Muitas das vezes vemo-nos obrigados a procura-la num ninho vazio correndo o risco de ser os recetores de um nefário olhar por parte de uma serpente que tinha chegado antes e declarado o que era de alguém como seu.
Contudo, escrever – entre outras refregas - é o nosso escape intelectual a um período que carece de desafios que façam coriscar a lâmpada e, como tal, correspondemos ao olhar desafiante do réptil ofídio com uma mirada viçosa e enérgica demonstrativa de preparação para a contenda, caso a necessidade de a disputar se apresente.
E assim, sem que a perceção de tal nos roce a pele, estamos sob o dia que a iluminação do espírito traz para afastar o trevor que precede a alba.

Desta forma, concluímos que a inspiração resume-se à coragem e à vontade de começar a construir algo; que à medida que avançamos, fazendo as modificações que forem necessárias, somos conscientes do caminho que percorremos, das tolheitas que ultrapassámos e das que se escondem, tal camaleão, na espinhosa e sáxea vereda que, ao dobrar o cunhal, nos espera.

Aos que entraram no nosso humilde lar, curiosos pelo desenvolvimento do assunto que o título faz esperar, não vos deixamos desolados.
Adolf Hitler, facínora alemão, que seguramente não exige qualquer apresentação, na caixa de Pandora que rendia a bomba propulsora da nequícia que nele fez as vezes do vermelho sangue partilhava, com o seu ódio por judeus, a paixão pelo jogo de bola com raquetes, num campo apropriado, dividido na metade por uma rede. Aos 5 anos começa a jogar e desde essa idade mostrou queda por ‘queimar’ os seus adversários com serviços velozes, potentes forehands e backhands e mortais aproximações à rede.
Antes de iniciar a sua vida política, que mais tarde levaria ao desenrolar da história que todos conhecemos e que à maioria enoja, torna-se maestro de ténis de grandes nomes do desporto nessa época.
Claro que se fosse verdade esta seria uma boa história.


No entanto, o verdadeiro motivo que nos levou a eleger este título foi a intriga que é capaz de despertar na medula de quem o lê. Isto e quarenta graus a aniquilar neurotransmissores.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Reflexões De Sexta À Noite: Ode A Uma Cultura Em Perigo



 
Gostamos de escrever. Não apenas gostamos como queremos. Um querer vero e intrincado que tem tanto de hereditário, familiar e aprendido como de intransmissível, pessoal e único.
Outros encargos prendem-nos de errar mais frequentemente pelas quelhas que a língua portuguesa, ao cidadão entretido, esconde. Na sua cidade escasseiam habitantes que, ao sentar-se à escrivaninha oculta no canto mais sombrio do quarto, sintam a paixão que comanda o âmago e ordena a mão, e num pedaço de papel, cuja passagem do tempo se denota pelo tom amarelado que dele resplandece, contem histórias. Histórias que são vida. São a vida de quem escreve, a vida de quem se escreve ou a vida de um ou outro leitor que se vê refletida no que é escrito.

Ao erguer a caneta, ao ajeitar a folha de papel enquanto decidimos a matéria sob qual a reflexão irá incidir, roda no núcleo do nosso cérebro a película de todos os amoráveis relatos que, blandiciosamente, escutávamos – e que, por alguma razão que ultrapassa a capacidade de compreensão humana, ainda hoje somos capazes de ouvir - das vozes sempre presentes dos nossos avós, pais, irmãos e amigos. Isto leva-nos a concluir que escrever também é recordar. E recordar é viver. Por estas razões, atrevemo-nos a ir mais longe e assumimos que recordar é dar vida.
Ao estar com o caderno no nosso regaço, a chorar a negra tinta que, à memória, a saudade não permite esquecer, origina-se, na esperança do reencontro, a viva imagem de quem o coração relembra e faz que, nos olhos, aquela tinta negra encontre onde desaguar. 

Esta é a magia de escrever. Uma magia descurada pelos mais novos que não manifestam o infinitesimal interesse e não são capazes – por resolução própria ou resolução aprendida – de descobrir os enormes segredos que ela encerra. Na razão da juventude – audaz é quem acredita que a usam já que todos eles acreditam que a têm - formou-se, recentemente, uma grande névoa que, não sendo resultado da adição entre o fumo do tabaco que libertam pela chaminé que substituiu a traqueia e o que libertam no processo reflexão, os impossibilita de achar o palheiro que engloba a agulha.
Desta forma, ficam os mais anciães habitantes – e uma idílica minoria de moços que devem ter caído das mãos do obstetra e batido com o crânio no acerbo chão do bloco operatório – com o venturoso encargo de a estimar e utilizar com a diligência exigida, à semelhança de uma mãe que, nos seus braços, sob a mirada zelosa de uns olhos felizes, carrega o seu primogénito.

Mas como se pode gostar ou querer escrever se a cultura da leitura fica reduzida a publicações do Facebook, Twitter ou Instragram povoadas de solecismos como antiptoses e barbarismos. Tais redes sociais deveriam sofrer um processo de acendramento linguístico-gramatical. Num ou outro caso, a severidade da situação já carece de um cura com conhecimentos de exorcismo e abundante água benta disponível para eliminar, definitivamente, o demónio que invade o teclado de alguns usuários e as possessas migalhas de ludro que, com o acúmulo da inscícia, fortes uniões forma e substitui o que, outrora, foi um encéfalo.
Desconhecemos as raízes desta carestia de apuro e tampouco nos colocamos na vanguarda para surribar a terra e trazer à superfície uma resposta que ao entenebrecer e afligir a alma mais alegre e confiada, nos motiva a dúvida do que faria à nossa!?

Sabemos, contudo, que quem não aventura a imaginação no secular trilho dos livros malpara-se a não chegar às comportas do templo que encerra o tesouro perdido. E, como consequência, não enriquecem a única coisa que a humanidade deixou quedar pobre…a sua própria consciência.
Quem perde é quem não procura! Quem deixa uma mente abnegada acaudilhar um corpo abúlico!
Será que nos seus espíritos não bruxuleia a vontade de madurar, de crescer…ou será já um espírito tão desanimado, extenuado… vencido por revistas cor-de-rosa e reality shows que a única fausta esperança que lhe resta é a do seu último suspiro estar para breve?

Não pretendemos que de 11 milhões de habitantes se façam 11 milhões de escritores. Porém, almejamos que os mesmos 11 milhões cresçam para apreciar um bom livro.


Esperamos que para que esta nossa ideia quimérica se torne realidade não seja necessário que nos povoemos de obstetras negligentes que permitam o mergulho de recém-nascidos para uma piscina de líquido amniótico

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Reflexões De Sexta À Noite - numa sexta à tarde: "FÉRIAS"




Ano novo…vida nova!

Este teria sido o encetar de um novo comentário quando, em princípios de janeiro, idealizámos a sua composição. Relativamente a tal situação, justificamos a procrastinada presença no jet set da literatura digital com a necessidade de atender diferentes refregas de uma índole que nos suscita ainda mais enlevo do que a escrita.
Desta forma, ter como ponto de partida aquela expressão traduz-se em irrelevante para a exegese e a resvalar o pateta.
A despeito da hábil dialética apresentada, preferimos manter esse início pois o nosso entusiasmo juvenil é alimentado pela patetice inerente à época fisiológica por que atravessamos e a relevância do que tentamos transmitir deixamos à inexorável e crítica avaliação dos nossos leitores.  

Prelúdio apresentado, prossigamos na verdejante e estreita devesa que nos entregará ao destino prometido seguramente sem que antes sejamos sujeitos a delicadas, espinhosas e soturnas tentações que só o espírito sagaz é capaz de iludir e opor. Qualquer motivação mais vil e luciferina ver-se-á tolhida pela lhaneza do percurso. Dependendo da razão que vos move aconselhamos que nos acompanhem ou, em alternativa, que o caminho que até aqui vos trouxe vos sirva também de guia na retirada.

Volvidos nove amenos meses – obviamente não nos referimos à temperatura que se fez sentir (e bem) já que essa variou desde um frio arrepiante que amotinou cada vilosidade presente e ausente no nosso sistema tegumentário estendendo-se até às microvilosidades intestinais do qual resultou o seu mais facinoroso efeito orgânico até um calor desértico, motor principal na produção de olorosos suores capazes de derrotar, em aberta liça, uma miríade de indivíduos com flébeis aspirações belígeras – recuperamos o direito ao descanso. Essencial a uns – a quem verdadeiramente estuda -, falsa e estranhamente percebido como merecido a outros – a quem vê no vocábulo “estudante” um sinónimo de “turista da universidade”, “modelo de apontamentos” ou “VIP da discoteca”.
Surpreendentemente, ou não – dependendo da credulidade que cada um carrega no coração – esta é uma enfermidade que sendo estranha não é rara.

É neste ponto que, puxando as rédeas do cavalo, – garantimos aos protetores dos animais que nenhum foi magoado durante a produção deste texto - nos delongamos na viagem e procedemos à análise e reflexão do que escrevemos.

Este é um fenómeno que com maior ou menor frequência, dependendo do meio por onde nos movemos, se pode observar ao longo de 365 dias mas que se exacerba em épocas estivais.
O calor mediterrâneo lançado sobre a Terra por Febo, progenitor de Esculápio – deus romano que protege uma das mais fruíveis atividades que aprendo a desempenhar - cumpre a missão de enlear sinapses; a esperança que o mar traga nalguma das suas denodadas ondas uma ou outra chamejante aventura do peito transborda o sangue hebético carregado de ilusões e lições, porventura, cândidas e mal aprendidas; a areia insinua-se por entre uns dedos que denotam a incúria no trabalho produzido, vigiada por uns olhos que assentam numa face rubicunda que não sendo manifestação de bronquite crónica são justificadas por tardes passadas na esplanada de um qualquer café a ‘socializar’.

Advertimos que não estamos contra retirar o máximo partido do sol, fazer praia ou sair com amigos. Também nós somos usufruidores do deleite que é tingir a pele com o moreno merecimento de uns dias de praia ou de umas horas de fagueiro colóquio com quem nos faz sorrir tanto com os lábios como com o coração.
A única diferença radica no sentimento que subjaz o momento: a sensação que, de facto, merecemos estar de papo orientado para as gaivotas a refrescar o traseiro com a brisa que o oceano oferece ou o enganado desplante de achar que os 2 meses de férias que se avizinham serão diferentes dos 10 meses que já passaram.
E é neste ponto que se enraíza a índole ‘estranha’ do comportamento relatado. Quiçá não resida no próprio comportamento mas na imprevidência do intelecto que o manifesta e no grande amigo que o suporta.

A frequência desta – na nossa perspetiva - anormal postura parece-nos que, com o tempo, tem vindo a aumentar. Quanto à normalidade da questão – e lembrando que o frequente é o normal e o normal é o frequente - deixamos o enigmático áporo à avaliação de quem, cujos conhecimentos epidemiológicos estão num degrau mais elevado que os nossos. Quiçá o normal seja, agora, a errada – no nosso juízo pessoal que pode ser tão equívoco como qualquer outro – perceção de que o ser digno de repouso estancia na maior ou menor capacidade de enganar os progenitores fazendo-os crer que os resultados obtidos não são um gritante indício da labutação do ano.

Estando enganado quem desconhece que o está a ser e também quem o permite e ainda presenteia o descarado logro, despedimo-nos com os votos de um bom ano novo e a resolução de que as Reflexões de Sexta À Noite regressarão nas próximas semanas.


E já agora…boas férias! Ou “férias”.