sexta-feira, 16 de junho de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Ser Estudante De Medicina É...

Aos que desconhecem o labor a que, por vocação, nos debruçamos em ameno, contudo, árduo estudo, agora o desvelamos laconicamente: somos estudantes de Medicina.
Por vocação dizemos, já que por talento ou imposição genética alguma área humanística teria as portas abertas à espera da nossa chegada. Todavia, aplacamos a sequiosa demanda do génio e da hereditariedade com as digressões prolixas que partilhamos.

Ser estudante de Medicina acarreta responsabilidades para as quais, ainda, não estamos mentalmente preparados para lidar. Há sempre a amiga que questiona sobre o medicamento que deve tomar para combater a molesta dor de cabeça de que padece, ou sobre qual a forma mais eficaz de fazer frente à constipação que os meses frios sempre reservam ou ainda que enfermidade inoportuna ataca sempre na primavera deixando os formosos narizes a pingar quando o que se quer é aproveitar o ar, um tanto-quanto menos cristalino, que esta estação oferece.
Não nos tomem como bobos; sabemos responder a estas questões e ainda às que forem necessárias.
Bem, escrevemos na segunda pessoa do plural mas referimo-nos a quem emprega a sua dedicação ao conhecimento da arte e não aos companheiros, cujo máximo esforço que contêm no âmago é colocado no levantamento do caneco ou na discussão sobre a pose mais atrevida para a fotografia “eu inocente” do ‘Instagram’. Há destes carácteres que se entretêm com o fulgor do encantamento frívolo, com as atrações que a brevidade exibe para nos prender aos seus instantes sem precatarem que do trabalho de hoje dependerão vidas amanhã.
Mas quem somos nós para estaquear a divisa que cada um procura que reja a sua vida.

Não obstante o ensejo que originou a verbosidade que discorremos nos últimos parágrafos, não tocámos ainda no verdadeiro tema que nos moveu, esta noite, a escrever.

Quando somos estudantes de Medicina e estamos numa consulta lado a lado com o médico, assim que o paciente e acompanhantes entram naquela pequena sala, decorada de receio, inquietação e dúvida, seria de esperar que o primeiro olhar a encontrar o seu fosse o do profissional que se lá se encontra. Todavia, quando nos submergimos na relação médico-paciente, acautelamos o juízo em matérias como esta. Na verdade, é mais frequente que o sorriso reconfortante venha dos olhos inexperientes mas meigos do estudante.
Obviamente que o que descrevemos não deve ser interpretado de forma alguma como falta de profissionalismo por parte do médico, mas admitimos que uns quantos não vêem para lá do órgão debilitado. Rudeza do coração ou proteção do mesmo?; não nos aventuramos a estabelecer a resposta que também trespassaria o nosso.

Somos apenas aprendizes; reconhecemos que muito caminho há para percorrer mas, já num período tão precoce das nossas carreiras que devemos sentir quando um neto nos vem agradecer o termos ajudado o seu avô a recuperar a saúde perdida? Que devemos sentir quando o marido nos vem apertar a mão, sem conseguir esconder a alegria, quando, finalmente, a sua mulher pode, após uma estadia hospitalar prolongada, regressar à sua amada e doce casa? Que devemos sentir, quando um filho, de olhos inchados e vermelhos, mirada vazia e perdida, nos agradece os esforços que fizemos, vãos é certo, na tentativa de salvar a sua mãe?
E somos apenas estudantes de Medicina, mas que havemos de sentir?
Quanto à resposta…honestamente, não sabemos o que havemos de sentir. Mas sabemos que, ao chegar a casa, queremos contar que alguém nos agradeceu só por estarmos presentes; por termos devolvido, num sorriso, a confiança que um mau momento retira; por termos eliminado a corrosiva dúvida que a dor suscita; por termos aliviado o desamparo que a morte carrega. Simplesmente, por estarmos de corpo e espírito ao lado de quem necessitava.
Sabemos que quando a noite chegar é aquele sentimento de realização que nos vai baloiçar até nos entregar a um sono pacífico e sabemos que é a expetativa de podermos rasgar nas trevas uma nesga de luz que nos vai despertar para um novo dia.

Ser estudante de medicina é mais do que saber anatomia, mecanismos fisiológicos e patológicos, diagnosticar doenças e como enfrentá-las.

Ser estudante de medicina é…

sábado, 10 de junho de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Erros de Português


Se o amigo Luís percorresse, todavia, os trilhos de terra batida deste nosso país, hoje disfarçados de um asfalto charlatão, continuaria a ver melhor os buracos que lhe abrimos, a despeito da enfraquecida visão que lhe reconhecemos, do que muitos de nós que alardeamos o vigor da tenra idade.
Luís, perdoa-nos a familiaridade com que, presentemente, ousamos dirigir-nos a ti. Sabes bem que enquanto a sombra do exame de Português nos atemorizou o espírito, foste reverentemente tratado por Senhor Camões; agora que deixámos de fazer da nossa própria língua um ridículo inimigo, a aliámos, mediante acordo mútuo, à nossa facção e já nada havendo a recear, ceamos, em alegria convival, o fruto que apenas nos providencia Portugal.    

Apresentamos, assim, o ensejo como pretexto para escrevermos sobre algumas das incorreções ortográficas e gramaticais que mais frequentemente podemos escutar e ler na taverna “ O Facebook”. Local onde respeitáveis personalidades se reunem para discutirem os ataimados e falsos rumores de ontem, que sobre a mesa digital, passam por autênticos factos, variegam o boato de ontem, para hoje, o mostrarem com uma face renovada e planeam já o disfarce que amanhã lhe será vestido.
Repassemos, então, em tal estabelecimento, pelas portas meneantes e consumidas pelos maus hábitos que acolhem, com a intenção de escrutinar como, por lá, se escreve.

1.   A ver/Haver
Ambas as expressões encerram um significado distinto pelo que não podem ser usadas como sinónimas. Ao escrever “Não tem nada a ver”, indicamos que não existe uma relação entre duas situações. Ou seja, “a ver” estabelece um relacionamento entre dois acontecimentos.
Se ortografamos “Não tem nada haver”, informamos que alguém não deve – dinheiro, por exemplo – ao emissor da mensagem. Escrito de outra forma, que o locutor da mensagem não tem nada a receber por parte de outrém.

2. Hadem/Hão-de
Ao invés do exemplo inaugural, em que ambas expresões gozam do estatuto de existência devida no léxico, na dualidade que, neste ponto, apresentamos, não podemos redijir o mesmo.
“Hão-de” corresponde a uma forma do verbo haver, utilizado, geralmente como verbo auxiliar para exprimir o futuro, seguida da preposição de, ao qual junta um verbo principal.
Tomando como referência a oração “Eles hão-de descobrir a importância de saber ler”, podemos discernir os seus constituintes e identificar o que expusémos anteriormente. Esta é, deste modo, a forma correta de utilização do verbo haver já que não há nenhuma que corresponda a hadem, distribuída, sobretudo, na forma oral da comunicação por falantes inscientes das fronteiras de palavra e, porventura, com débil motivação para afuroar os mais reconditos esconsos que oculta a nossa língua mãe. 

3. Obrigado/Obrigada
Rematamos a nossa lacónica lista com um dos vocábulos que mais sensação de incómodo deve produzir na boca das pessoas de tão rara vez que é escutada, sendo que quando há o atrevimento de depositá-la entre os dentes e sobre a língua, de tão de afogadilho a pronunciarem, alcança o espírito sempre despida do propósito de mostrar sincero arrependimento.
Quando obrigado é utilizado como agradecimento, entende-se habitualmente que se trata de um uso adjetival pelo que o género do vocábulo deve concordar com o sujeito que o exprime. Se se trata de um sujeito masculino a expressão apropriada será obrigado mas se é um sujeito femenino adivinha-se que obrigada será a forma correta.
Não obstante, quando utilizada isoladamente, nada obriga a que este vocábulo seja um adjetivo pudendo tratar-se de uma interjeição e, como tal, invariável em género e em número e independente do sujeito que a expressa.
Como conclusão, consegue-se entender que, um indivíduo do sexo femenino poderá utilizar, como forma de agradecimento, obrigada – caso se trate de um adjetivo (que deve concordar com o orador em género e número) – ou obrigado – se usa uma interjeição, que é invariável -, enquanto um indivíduo do sexo masculino deverá utilizar em ambos casos – adjetivo ou interjeição – obrigado.

Já um pouco nauseados da inspiração que a fraca cerveja alimenta, viramos as costas à vil tasca e encerramos este discurso, adredemente, informativo.
Resta-nos esperar que, no leitor, se renove de pundonor e brio o sangue e que exorcize deste os últimos atos impiedosos contra a língua portuguesa.

Pugnemos em conjunto e, como escrevemos ao encetar este escrito, em alegria convival - tão habitual nos lusitanos –, e aos que podem, incluindo Luís em consideração favorável, a sensaboria do que muito se tem escrito e do pouco que se tem dito.


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terça-feira, 6 de junho de 2017

O Que Ainda Não foi Escrito: Que Sempre Regresse!


Regressamos, como é habitual, à frequência estival de escrita.
Não obstante, recusamo-nos a encetar este novo período sem antes libar os leitores que, na volubilidade das nossas publicações, nos acompanham fielmente. Não pela leitura dos textos nos momentos de presença, mas pela amizade e apoio que espelham na necessária ausência.
A todos vós, obrigado!

Regressamos após praticamente um ano de interregno. Um ano de trabalho que é reconhecido com a liberdade de ocupar o nosso tempo com o que mais regozijo nos oferecer sendo que escrever é uma das tarefas que cumpre a premissa apresentada. Um ano em que recolhemos experiências, demos existência a histórias que, em anos vindouros, serão contadas, não por quem assistiu, mas por quem as viveu; que marcaram a pele com a aspereza da dedicação, que adubaram, com esforço, o terreno do qual pulularam as novas cãs que ostentamos e que gravaram, no espírito, a glória que oferece o sentimento de uma consciência despejada de contrição.

As doze luas cheias e as noites, às quais emprestaram um pouco da sua claridade para tornar o escuro firmamento menos sombrio, serviram de sebenta sobre a qual, a finos traços de melancolia, oferecemos o que de melhor havia em nós. Prometemos que o continuaremos a fazer enquanto o dia estilumar o corpo e a noite enfeitiçar a mente.
Ter-nos-iamos servido das estrelas mas essas… essas veem a sua luz dissolvida na vã névoa da iluminação das cidades que tanto amamos.
Assim sendo, recorremos a esse corpo celeste. Pode não emitir fulgor por si mas se é capaz de conceber nos oceanos a oposição entre as mais convulsas marés e as mais plácidas ondulações, seguramente, poderá, também, afeiçoar os pensamentos humanos à harmoniosa aura da Natureza.
Subjugando-nos à influência desse astro, humildemente procuramos servi-lo e, no solo que nos foi concedido, espraiar o seu efeito.

Desta forma, cultivaremos este período mediante as cumpridoras e já conhecidas “Reflexões de sexta à noite” e os inovadores “O que ainda não foi escrito”.
Os leitores que buscam mais que os frívolos brilhos citadinos, mantanham-se debruçados na janela, a contemplar o solene panorama alumiado pelo esplendor lunar sarapintado a pontos luminosos, agora sim, visiveis desde a escuridão diáfona do que chamamos... refúgio.





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