sexta-feira, 24 de junho de 2016

Reflexões De Sexta À Noite - numa sexta à tarde: "FÉRIAS"




Ano novo…vida nova!

Este teria sido o encetar de um novo comentário quando, em princípios de janeiro, idealizámos a sua composição. Relativamente a tal situação, justificamos a procrastinada presença no jet set da literatura digital com a necessidade de atender diferentes refregas de uma índole que nos suscita ainda mais enlevo do que a escrita.
Desta forma, ter como ponto de partida aquela expressão traduz-se em irrelevante para a exegese e a resvalar o pateta.
A despeito da hábil dialética apresentada, preferimos manter esse início pois o nosso entusiasmo juvenil é alimentado pela patetice inerente à época fisiológica por que atravessamos e a relevância do que tentamos transmitir deixamos à inexorável e crítica avaliação dos nossos leitores.  

Prelúdio apresentado, prossigamos na verdejante e estreita devesa que nos entregará ao destino prometido seguramente sem que antes sejamos sujeitos a delicadas, espinhosas e soturnas tentações que só o espírito sagaz é capaz de iludir e opor. Qualquer motivação mais vil e luciferina ver-se-á tolhida pela lhaneza do percurso. Dependendo da razão que vos move aconselhamos que nos acompanhem ou, em alternativa, que o caminho que até aqui vos trouxe vos sirva também de guia na retirada.

Volvidos nove amenos meses – obviamente não nos referimos à temperatura que se fez sentir (e bem) já que essa variou desde um frio arrepiante que amotinou cada vilosidade presente e ausente no nosso sistema tegumentário estendendo-se até às microvilosidades intestinais do qual resultou o seu mais facinoroso efeito orgânico até um calor desértico, motor principal na produção de olorosos suores capazes de derrotar, em aberta liça, uma miríade de indivíduos com flébeis aspirações belígeras – recuperamos o direito ao descanso. Essencial a uns – a quem verdadeiramente estuda -, falsa e estranhamente percebido como merecido a outros – a quem vê no vocábulo “estudante” um sinónimo de “turista da universidade”, “modelo de apontamentos” ou “VIP da discoteca”.
Surpreendentemente, ou não – dependendo da credulidade que cada um carrega no coração – esta é uma enfermidade que sendo estranha não é rara.

É neste ponto que, puxando as rédeas do cavalo, – garantimos aos protetores dos animais que nenhum foi magoado durante a produção deste texto - nos delongamos na viagem e procedemos à análise e reflexão do que escrevemos.

Este é um fenómeno que com maior ou menor frequência, dependendo do meio por onde nos movemos, se pode observar ao longo de 365 dias mas que se exacerba em épocas estivais.
O calor mediterrâneo lançado sobre a Terra por Febo, progenitor de Esculápio – deus romano que protege uma das mais fruíveis atividades que aprendo a desempenhar - cumpre a missão de enlear sinapses; a esperança que o mar traga nalguma das suas denodadas ondas uma ou outra chamejante aventura do peito transborda o sangue hebético carregado de ilusões e lições, porventura, cândidas e mal aprendidas; a areia insinua-se por entre uns dedos que denotam a incúria no trabalho produzido, vigiada por uns olhos que assentam numa face rubicunda que não sendo manifestação de bronquite crónica são justificadas por tardes passadas na esplanada de um qualquer café a ‘socializar’.

Advertimos que não estamos contra retirar o máximo partido do sol, fazer praia ou sair com amigos. Também nós somos usufruidores do deleite que é tingir a pele com o moreno merecimento de uns dias de praia ou de umas horas de fagueiro colóquio com quem nos faz sorrir tanto com os lábios como com o coração.
A única diferença radica no sentimento que subjaz o momento: a sensação que, de facto, merecemos estar de papo orientado para as gaivotas a refrescar o traseiro com a brisa que o oceano oferece ou o enganado desplante de achar que os 2 meses de férias que se avizinham serão diferentes dos 10 meses que já passaram.
E é neste ponto que se enraíza a índole ‘estranha’ do comportamento relatado. Quiçá não resida no próprio comportamento mas na imprevidência do intelecto que o manifesta e no grande amigo que o suporta.

A frequência desta – na nossa perspetiva - anormal postura parece-nos que, com o tempo, tem vindo a aumentar. Quanto à normalidade da questão – e lembrando que o frequente é o normal e o normal é o frequente - deixamos o enigmático áporo à avaliação de quem, cujos conhecimentos epidemiológicos estão num degrau mais elevado que os nossos. Quiçá o normal seja, agora, a errada – no nosso juízo pessoal que pode ser tão equívoco como qualquer outro – perceção de que o ser digno de repouso estancia na maior ou menor capacidade de enganar os progenitores fazendo-os crer que os resultados obtidos não são um gritante indício da labutação do ano.

Estando enganado quem desconhece que o está a ser e também quem o permite e ainda presenteia o descarado logro, despedimo-nos com os votos de um bom ano novo e a resolução de que as Reflexões de Sexta À Noite regressarão nas próximas semanas.


E já agora…boas férias! Ou “férias”.