Ano
novo…vida nova!
Este
teria sido o encetar de um novo comentário quando, em princípios de janeiro,
idealizámos a sua composição. Relativamente a tal situação, justificamos a
procrastinada presença no jet set da
literatura digital com a necessidade de atender diferentes refregas de uma
índole que nos suscita ainda mais enlevo do que a escrita.
Desta
forma, ter como ponto de partida aquela expressão traduz-se em irrelevante para
a exegese e a resvalar o pateta.
A
despeito da hábil dialética apresentada, preferimos manter esse início pois o
nosso entusiasmo juvenil é alimentado pela patetice inerente à época
fisiológica por que atravessamos e a relevância do que tentamos transmitir
deixamos à inexorável e crítica avaliação dos nossos leitores.
Prelúdio
apresentado, prossigamos na verdejante e estreita devesa que nos entregará ao
destino prometido seguramente sem que antes sejamos sujeitos a delicadas,
espinhosas e soturnas tentações que só o espírito sagaz é capaz de iludir e
opor. Qualquer motivação mais vil e luciferina ver-se-á tolhida pela lhaneza do
percurso. Dependendo da razão que vos move aconselhamos que nos acompanhem ou,
em alternativa, que o caminho que até aqui vos trouxe vos sirva também de guia
na retirada.
Volvidos
nove amenos meses – obviamente não nos referimos à temperatura que se fez
sentir (e bem) já que essa variou desde um frio arrepiante que amotinou cada
vilosidade presente e ausente no nosso sistema tegumentário estendendo-se até
às microvilosidades intestinais do qual resultou o seu mais facinoroso efeito
orgânico até um calor desértico, motor principal na produção de olorosos suores
capazes de derrotar, em aberta liça, uma miríade de indivíduos com flébeis
aspirações belígeras – recuperamos o direito ao descanso. Essencial a uns – a
quem verdadeiramente estuda -, falsa e estranhamente percebido como merecido a
outros – a quem vê no vocábulo “estudante” um sinónimo de “turista da
universidade”, “modelo de apontamentos” ou “VIP da discoteca”.
Surpreendentemente,
ou não – dependendo da credulidade que cada um carrega no coração – esta é uma
enfermidade que sendo estranha não é rara.
É
neste ponto que, puxando as rédeas do cavalo, – garantimos aos protetores dos
animais que nenhum foi magoado durante a produção deste texto - nos delongamos
na viagem e procedemos à análise e reflexão do que escrevemos.
Este
é um fenómeno que com maior ou menor frequência, dependendo do meio por onde
nos movemos, se pode observar ao longo de 365 dias mas que se exacerba em
épocas estivais.
O
calor mediterrâneo lançado sobre a Terra por Febo, progenitor de Esculápio –
deus romano que protege uma das mais fruíveis atividades que aprendo a
desempenhar - cumpre a missão de enlear sinapses; a esperança que o mar traga
nalguma das suas denodadas ondas uma ou outra chamejante aventura do peito transborda
o sangue hebético carregado de ilusões e lições, porventura, cândidas e mal
aprendidas; a areia insinua-se por entre uns dedos que denotam a incúria no
trabalho produzido, vigiada por uns olhos que assentam numa face rubicunda que
não sendo manifestação de bronquite crónica são justificadas por tardes
passadas na esplanada de um qualquer café a ‘socializar’.
Advertimos
que não estamos contra retirar o máximo partido do sol, fazer praia ou sair com
amigos. Também nós somos usufruidores do deleite que é tingir a pele com o
moreno merecimento de uns dias de praia ou de umas horas de fagueiro colóquio
com quem nos faz sorrir tanto com os lábios como com o coração.
A
única diferença radica no sentimento que subjaz o momento: a sensação que, de
facto, merecemos estar de papo orientado para as gaivotas a refrescar o
traseiro com a brisa que o oceano oferece ou o enganado desplante de achar que
os 2 meses de férias que se avizinham serão diferentes dos 10 meses que já
passaram.
E é
neste ponto que se enraíza a índole ‘estranha’
do comportamento relatado. Quiçá não resida no próprio comportamento mas na
imprevidência do intelecto que o manifesta e no grande amigo que o suporta.
A
frequência desta – na nossa perspetiva - anormal postura parece-nos que, com o
tempo, tem vindo a aumentar. Quanto à normalidade da questão – e lembrando que
o frequente é o normal e o normal é o
frequente - deixamos o enigmático áporo à avaliação de quem, cujos
conhecimentos epidemiológicos estão num degrau mais elevado que os nossos. Quiçá o normal seja, agora, a errada –
no nosso juízo pessoal que pode ser tão equívoco como qualquer outro – perceção
de que o ser digno de repouso estancia na maior ou menor capacidade de enganar
os progenitores fazendo-os crer que os resultados obtidos não são um gritante
indício da labutação do ano.
Estando
enganado quem desconhece que o está a ser e também quem o permite e ainda
presenteia o descarado logro, despedimo-nos com os votos de um bom ano novo e a
resolução de que as Reflexões de Sexta À
Noite regressarão nas próximas semanas.
E já
agora…boas férias! Ou “férias”.