Hoje, neste meu comentário, vou
quebrar um pouco a monotonia das minhas publicações. Ainda que as minhas
intenções, anteriormente explicadas, se mantenham intactas, vou tratar de
dar-lhes uma apresentação diferente.
Em vez do tradicional esmiuçar de
notícias interessantes, escrevo um conto.
Este é um conto ligeiramente distinto
dos restantes. Não começa com era uma vez
ou com há muitos anos atrás, num
reino longínquo.
No entanto, algumas características
deste género de texto literário mantêm-se preservadas.
No reino perdido de Antímona, uma profecia nunca cumprida, esperava ansiosamente por
quem fosse capaz de o fazer. Esta contava que só alguém com capacidade de
trabalho, sabedoria e humildade era capaz de conduzir o reino à prosperidade e,
à glória, os seus habitantes. Até àquele momento, muitos haviam tentado mas não
havia memória de alguém que tivesse alcançado o feito de a concretizar.
O homem mais sábio do reino, cujas primaveras nunca
ninguém soubera ou se atrevera a perguntar, recebia muitos pedidos para tentar.
Até os
próprios reis, pessoas de bem mas desesperados por tempos melhores, conduziram
diligências para ir ao seu encontro, oferecendo-lhe dinheiro, poder e fama.
Nunca ouviram outra resposta que não fosse a negação de tais prazeres terrenos.
Justificava-se que não era a ele que competia o predestino de concretizar a
profecia.
Enquanto
tudo isto ocorria, uma pequena rapariga, gabada por sua audácia, esperteza e
valentia, trabalhava arduamente para ajudar seus pais e garantir pão na mesa
para os seus quatro irmãos. Com todas as tarefas que tinha para fazer, pouco
tempo lhe sobrava para os estudos. No entanto, a menina era capaz de conciliar
tudo o que tinha para fazer. Ainda que com um horário tão estrito arranjava
sempre um tempinho para fazer tudo o que era próprio da sua idade. Acreditava que com
organização e querer tudo se conseguia e raramente se desviava do caminho que,
na sua mente, tinha traçado para si.
Tinha como grande amigo um velho que vivia ao fundo
da sua rua. O mesmo que fora tentado pelos reis a procurar solução para a
profecia. Mal ele sabia que, sem querer, instruía a resposta às orações dos
habitantes de Antímona.
Sempre que podia, a pequena, passava horas a ouvir
o que o velho lhe tinha para contar. Escutava atentamente cada palavra.
Absorvia, com brilho no olhar, cada gota de conhecimento. Naquele momento, ele
era já um mestre para ela.
Certo dia, o velho dirigiu-se a casa dos pais da
rapariga e pediu-lhes que a libertassem das tarefas que ela tinha de modo a
poder aprofundar e melhorar as suas capacidades. Os pais, mesmo sabendo que ao
dispensar a ajuda da filha teriam de aguentar com maior carga de trabalho,
acederam ao pedido em prol do desenvolvimento pleno das aptidões da
descendente.
A rapariga passava agora grande parte dos seus dias
sob a orientação do velho que, com a mestria que lhe era reconhecida, ao longo
de vários anos ajudou a levar a bom porto as aspirações tanto do aprendiz como
de seus pais.
Com o tempo, a notícia do seu talento espalhou-se
pelo reino. Nela os governadores e aldeões reconheciam a esperança de
providência. Como tal, a rapariga, agora já uma mulher, foi integrada nas
cortes e, aos poucos, foi ganhando a confiança dos seus constituintes.
Inclusive dos reis.
Os seus métodos passaram a ser aplicados. As suas
estratégias revelaram-se vitoriosas e quando já todos deixavam de acreditar,
eis que a profecia se cumpre e o Antímona
regressa ao auge de tempos idos.
No cimo de uma colina, a mais alta das redondezas, num pôr de sol que
aquele reino há muito que não via, a rapariga inspira ar puro e apercebe-se que
o verdadeiro poder não pode ser comprado. Que a verdadeira glória não se mede
pela quantidade de estrelas que um tem no casaco ou de medalhas à volta do pescoço.
Qualquer um deles é consequência de uma vida de dedicação, esforço, trabalho e
humildade. Que só assim somos capazes de inscrever os nossos nomes nas páginas
douradas da História.