sexta-feira, 24 de julho de 2015

O segredo de Antímona

Normalmente, nestas minhas intervenções pelo mundo dos zeros e uns, aplico-lhes uma pitada de bom senso, cultura e um humor tão duvidoso quanto a inocência dos nossos políticos. Tento que em todos os textos que escrevo e comentários que faço, haja sempre uma moral para se retirar, uma conclusão que cada leitor faça sua, interiorize e a aplique com o intuito de tornarmos este planeta um lugar melhor.

Hoje, neste meu comentário, vou quebrar um pouco a monotonia das minhas publicações. Ainda que as minhas intenções, anteriormente explicadas, se mantenham intactas, vou tratar de dar-lhes uma apresentação diferente. 
Em vez do tradicional esmiuçar de notícias interessantes, escrevo um conto.
Este é um conto ligeiramente distinto dos restantes. Não começa com era uma vez ou com há muitos anos atrás, num reino longínquo.
No entanto, algumas características deste género de texto literário mantêm-se preservadas.


No reino perdido de Antímona, uma profecia nunca cumprida, esperava ansiosamente por quem fosse capaz de o fazer. Esta contava que só alguém com capacidade de trabalho, sabedoria e humildade era capaz de conduzir o reino à prosperidade e, à glória, os seus habitantes. Até àquele momento, muitos haviam tentado mas não havia memória de alguém que tivesse alcançado o feito de a concretizar.
O homem mais sábio do reino, cujas primaveras nunca ninguém soubera ou se atrevera a perguntar, recebia muitos pedidos para tentar. Até os próprios reis, pessoas de bem mas desesperados por tempos melhores, conduziram diligências para ir ao seu encontro, oferecendo-lhe dinheiro, poder e fama. Nunca ouviram outra resposta que não fosse a negação de tais prazeres terrenos. Justificava-se que não era a ele que competia o predestino de concretizar a profecia.

 Enquanto tudo isto ocorria, uma pequena rapariga, gabada por sua audácia, esperteza e valentia, trabalhava arduamente para ajudar seus pais e garantir pão na mesa para os seus quatro irmãos. Com todas as tarefas que tinha para fazer, pouco tempo lhe sobrava para os estudos. No entanto, a menina era capaz de conciliar tudo o que tinha para fazer. Ainda que com um horário tão estrito arranjava sempre um tempinho para fazer tudo o que era próprio da sua idade. Acreditava que com organização e querer tudo se conseguia e raramente se desviava do caminho que, na sua mente, tinha traçado para si.
Tinha como grande amigo um velho que vivia ao fundo da sua rua. O mesmo que fora tentado pelos reis a procurar solução para a profecia. Mal ele sabia que, sem querer, instruía a resposta às orações dos habitantes de Antímona.
Sempre que podia, a pequena, passava horas a ouvir o que o velho lhe tinha para contar. Escutava atentamente cada palavra. Absorvia, com brilho no olhar, cada gota de conhecimento. Naquele momento, ele era já um mestre para ela.
Certo dia, o velho dirigiu-se a casa dos pais da rapariga e pediu-lhes que a libertassem das tarefas que ela tinha de modo a poder aprofundar e melhorar as suas capacidades. Os pais, mesmo sabendo que ao dispensar a ajuda da filha teriam de aguentar com maior carga de trabalho, acederam ao pedido em prol do desenvolvimento pleno das aptidões da descendente.
A rapariga passava agora grande parte dos seus dias sob a orientação do velho que, com a mestria que lhe era reconhecida, ao longo de vários anos ajudou a levar a bom porto as aspirações tanto do aprendiz como de seus pais.

Com o tempo, a notícia do seu talento espalhou-se pelo reino. Nela os governadores e aldeões reconheciam a esperança de providência. Como tal, a rapariga, agora já uma mulher, foi integrada nas cortes e, aos poucos, foi ganhando a confiança dos seus constituintes. Inclusive dos reis.
Os seus métodos passaram a ser aplicados. As suas estratégias revelaram-se vitoriosas e quando já todos deixavam de acreditar, eis que a profecia se cumpre e o Antímona regressa ao auge de tempos idos.


No cimo de uma colina, a mais alta das redondezas, num pôr de sol que aquele reino há muito que não via, a rapariga inspira ar puro e apercebe-se que o verdadeiro poder não pode ser comprado. Que a verdadeira glória não se mede pela quantidade de estrelas que um tem no casaco ou de medalhas à volta do pescoço. Qualquer um deles é consequência de uma vida de dedicação, esforço, trabalho e humildade. Que só assim somos capazes de inscrever os nossos nomes nas páginas douradas da História.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Sem tanta inveja do Pombo!

Todos os países têm, no seu reportório de ideias e leis, umas quantas bastante criativas merecedoras de um qualquer prémio atribuído pela Real Academia Sobral Cid. E há que dar-lhes crédito por isso. Da mesma maneira que vemos o Guernica no museu e apreciamos a mente brilhante que o idealizou e a maneira como o executou, as leis, pelos nossos governantes, projetadas, são também dignas de exposição pública. Nem que seja, algumas delas, pelo ridículo que representam.
Não entendam isto como um comentário dirigido exclusivamente ao governo português. Todas as administrações mundiais, por muita excelência e genialidade utilizadas na condução do seu país à prosperidade, têm sempre aquela personagem ou ideia suscetível de sátira.

Aliás, o tema de hoje não me foi fornecido por Portugal mas, sim, por nuestros hermanos. E não, não vou comentar sobre o facto de o Casillas ter ido para o Porto, ou sobre a mãe do rapaz ter dito que o clube de destino do filho pertencer à Segunda Divisão B, disputando a bola e títulos com grandes clubes europeus como Barakaldo, Leganés e outras grandes potencias to futebol europeu.
Comento sim e partilho, uma ideia que o alcalde da cidade espanhola Badia del Vallès, na Catalunha, apresentou, com a intenção de reduzir o número animais que esvoaçam pelos céus da povoação: contracetivos para pombos.

Antes de prosseguir com a explicação do porquê e do como, expresso só que a mim parece-me um ato solidário para com os dirigentes do Real Madrid: “(o Real Madrid) não manda ninguém para a despedida do Casillas ao clube, certamente por falta de staff e nós, para mostrar o nosso respeito e apoio pelo comportamento tido, diminuímos o número de efetivos voadores na Catalunha.”

Atenção, se a ideia pega e propaga, pessoalmente, aconselho o Messi a ir começando a preparar-se psicologicamente para o facto de não ter ninguém do Barcelona que o acompanhe quando decidir abandonar o clube. E tudo culpa do alcalde de Badia del Vallès.

Retomando a notícia inicial, parece que a exagerada população de pombas que afeta grande parte das cidades europeias começa a tornar-se um incómodo entrave ao turismo. E como a própria economia espanhola também já conheceu melhores épocas, retirar esta fonte monetária é como colocar os testículos de Espanha entre duas pedras e sem qualquer misericórdia permitir a veloz aproximação entre ambas.
Assim sendo, o alcalde daquela cidade da Catalunha idealizou um dispensador de contracetivos para pássaros que distribui o dito medicamento junto com sementes, todas as manhãs. Deste modo, prevê-se que em 5 anos a população de pombas diminua uns 80%.

É assim, eu não sou biólogo, nem ornitologista, nem especialistas em pássaros ou em demografia mas parece-me que, da mesma maneira que já fodemos a população humana mundial, também estamos a impedir a boa foda da população dos bichitos com asas.
Trata-se tudo de uma questão de inveja. Somos, enquanto seres humanos, a criancinha da pré-escola que quer um carro igual ao carro dos bombeiros do colega, sendo a única justificativa o facto de ele ter também um.
No entanto, à nossa atitude foi-lhe emprestada um pouco mais de maldade e perversidade uma vez que não se trata de “se os pássaros fodem eu também quero”. Trata-se, exatamente, do inverso. Trata-se de “se nós não o fazemos mais ninguém faz”.

Sobre este tema resta-me comentar que, a meu ver, trata-se de um ato de tremenda estupidez e imbecilidade por parte da espécie humana.
Já não basta estarmos a trabalhar para conduzir a nossa própria espécie à extinção como ainda queremos arrastar outros animaizinhos connosco. Deve ser solitário fazê-lo sozinho.

Lá teremos nós de recorrer a um novo Noé. Mas que nos faça um favor. Evite o embarque de determinadas pessoas. Obrigado de antemão!



p.s. Sou consciente que, tecnicamente, não estamos a impedir o ato em si, estamos só a impedir a formação de um novo ser, mas é uma piada por isso decidi deixar ficar assim.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Reflexões de sexta à noite: Tatuagens de Sol

Os meus pais devem ter feito alguma coisa mal. Alguma coisa bastante mal devem ter feito os meus pais, aqueles pobres santinhos. Não sei o que poderão ter feito mas deve ter chateado alguém bastante importante para eu ter nascido assim. Não sei se foi isto que vou partilhar agora… mas se não foi é mais uma história: a minha mãe sempre teve a mania de me pentear aquele cabelo maroto que se coloca na testa, cabelo esse que evoca emoções tanto de sensualidade como de infantilidade, com saliva e à frente dos meus colegas… da faculdade.
Repito: desconheço qual terá sido o mal que terão feito tão vis seres.
Ahhh, esperem lá! Descobri. Se calhar os meus pais transmitiram-me valores, educação e, talvez, me tenham ensinado a usar o bom senso.  

Bom senso, aquilo que todo o Homem gosta muito de encher a boca ao afirmar que utiliza mas não faz a mínima ideia do que é. Deve ser uma técnica somente usada para enganar os estrangeiros... ou para ir à caça de gambuzinos.
Pais meus, que crimes contra a humanidade realizastes vós? Devemos ter voltado à Idade Média para os progenitores voltarem a protagonizar tão obsoleta tradição? Realizem-se já marchas, protestos e abaixo-assinados contra quem ainda pratica tão desprezível e desatualizada atitude!

Confesso a minha ignorância neste tema mas questiono-me se é somente a descendência de infame progénie que consegue pensar e racionalizar por si própria ou a malta cuja ascendência é mais moderna e tapa os olhos e aperta o pescoço à educação também o faz? Permitam-me a dúvida que eu admito as devidas exceções.

Tudo isto pode parecer uma breve, superficial e, potencialmente, até, desnecessária reflexão sobre os problemas da sociedade contemporânea mas com a progressão do texto revelada será a sua necessidade.

 Como seres pensantes e refletivos, somos capazes de questionar e de duvidar do que nos dizem ou mostram. Ou pelo menos devíamos. Como tal torna-se assombroso ver quantas pessoas são capazes de seguir tendências tão, claramente, perigosas e prejudiciais tanto para elas como para a comunidade.
Sendo assim, a moda deste verão é: tatuagens de sol.

O conceito é simples. Aplicam-se desenhos sobre a pele e colocam-se as pessoas ao sol à espera que a pele fique “tatuada”.
Tatuada é o termo que esses seres geneticamente programados para possuir a admirável e impressionante quantia de dois milhões de neurónios utilizam para se gabarem da proeza alcançada. Os restantes, que, geneticamente, foram “injustiçados” com uns milhares de milhão extra de células nervosas, costumam dizer que a pele fica queimada, agredida e até mal tratada. Quiçá sejam só estes últimos os que têm consciência da inconsciência que aquela atividade representa.

Uma questão insurge-se neste momento de progressiva perda de esperança na humanidade: não é do senso comum, que a radiação emitida pelo sol pode ser periclitante? Ou tamanho ensinamento só é colocado à disposição nas faculdades de medicina, enfermagem e afins?
Não me interpretem mal. Esta nova moda é tão perigosa como os velhinhos salões e máquinas de bronzeamento e de praia sem o protetor adequado. Os seus defensores podem até argumentar que é menos perigosa uma vez que só a área dita “tatuada” está exposta aos perigos da radiação.

Cientistas passam anos a investigar, estudar e interrelacionar a radiação ultravioleta, queimaduras e a génese de cancro da pele e chegam à conclusão que pode tornar-se ameaçador à própria biologia e fisiologia humanas. No entanto, umas poucas horas de investigação pela internet revela o quão bonitos e bonitas estão os meninos e as meninas e fazem logo pender a balança para a escabrosa tendência.
Atenção, o que estes senhores e senhoras estão a fazer é de valor. Podemos estar a assistir a um valente e histórico afrontamento às teorias de Darwin sobre a sobrevivência dos mais adaptados. Deixemos que a batalha comece!

Podia ser spoiler e contar o último episódio, mas contenho-me. Digo apenas que o seu criador, para ceifar personagens dos episódios, é pior que o George R. R. Martin.

Este tipo de modas não se entendem. Na verdade, poucas são as que chegam a roçar o córtex da minha compreensão. Talvez seja eu um inadaptado tendo em conta as condições sociais que, em pleno 2015, nos são apresentadas. Afinal, uma espécie como eu só pode ter surgido do cruzamento de um óvulo de Berzebu e um espermatozoide da mítica criatura finlandesa Peikko, numa experiência cuja metodologia e instruções de fabrico vieram numa caixa de cereais proveniente dos grandes laboratórios subterrâneos e clandestinos asiáticos.

Vivemos na era da tecnologia e a que muitos especialistas chamam “Era da Informação”. No entanto, todo o potencial que nos é proporcionado acaba por ser desaproveitado por malta sem capacidade de filtro e que acredita em tudo o que está escrito na primeira hiperligação do Google.
Saber que tendências devem ser seguidas (para não falar de muitos outros assuntos mais importantes que este) exige um exercício de reflexão que, infelizmente, a nossa sociedade não está habituada a praticar. E quando o faz, acorda na manhã seguinte com dores de cabeça, fruto da atrofia mental que tem vindo a sofrer. Desafortunadamente, as nossas escolas e universidades já entraram numa espiral em que acreditam que decorar é o caminho para o saber, pelo que o trabalho reflexivo, o uso da crítica e a valorização da dúvida começam a estar, também, “fora de moda”. Estão-nos a condenar a passar uma vida inteira amarrados a correntes e a olhar para uma parede onde só somos capazes de ver a sombra do que se está passar. Uma mera ilusão de realidade.


Sendo assim, optar por seguir a moda das calças ao fundo do rabinho não é a melhor decisão. Mas sendo dada a escolha entre esta e as tatuagens de sol, deixem lá a rapaziada andar a mostrar os boxers. A ser possível que estejam lavadinhos e sem manchas.