quarta-feira, 15 de abril de 2015

Publicações de Outrora!

Como foi prometido há já algum tempo, ainda era eu uma criança, escrevo aqui o que poderia ser uma publicação de alguns dos mais emblemáticos “embaixadores” da língua portuguesa.
Aqueles escritores que, se lessem o que se escreve hodiernamente (para quem não sabe o que é, não sede tão ociosos e ide procurar a um dicionário), sentir-se-iam envergonhados pelas suas obras estarem a ser “ensinadas” a malta que escreve “sandex” em vez de sandes, que não sabe distinguir “comeste” de “comes-te” ou ainda, e a minha preferida, não sabem que se diz “hão-de” e não “hádem”.

- “Eles um dia hádem de aprender…ou a bem ou mal!”

Pessoal que, ao “escrever”, dá tanto pontapé à língua lusitana que estaríamos todos agradecidos se um traumatologista estivesse por perto para minimizar as consequências que daí adviriam.

Tudo bem que todos cometemos aquele errozito gramatical, escrevemos mal aquela palavra. Nada que uma segunda leitura e um pouco mais de atenção não evitem. Agora, não é nada assim de tão transcendente que nos obrigue à profundidade de uma busca às verdadeiras razões de tanta merda ser dita e escrita.
Miguel Esteves Cardoso, para quem não sabe é um escritor português (e se quiserem saber mais procurem no Google… que para outras coisas todos nós sabemos usá-lo), disse o seguinte: “Foder a língua portuguesa é escreve-la mal”.

Vamos lá minha gente, tentemos não fazer isto! É que mesmo quando fodemos algo/alguém tentamos fazê-lo bem. O mesmo merece a língua portuguesa. É uma questão de brio.

Feitas todas as introduções que havia para fazer (limpem essas mentes, não é o que estais todos a pensar, referia-me a este discurso preliminar em que se expõe ordinariamente o motivo de uma obra) procedamos ao cerne da minha publicação de hoje.

Na época de Camões e de Eça de Queiroz, para quem está a par da história da tecnologia, não existiam os computadores, Internet nem redes sociais.
Quiçá as redes sociais existissem! Num formato diferente ao que hoje, potencial e infelizmente, nos é apresentado.
Os amigos, em tempos de outrora, reuniam-se na taberna no Quim, famoso pelo seu vinho de qualidade portuguesa e conhaque importado de terras gaulesas, para contar histórias, debater ideias, degustar vinhos e saborear uma bela tábua de queijos. Não eram necessários Facebooks, Twitters e afins para que um gajo tivesse uma vida "socialmente ativa".

No entanto, com todo o desenvolvimento que a tecnologia nos proporcionou, parece que todas as histórias que podiam ser contadas ficam perdidas num mar de trinta mil fotos do rabo de uma moça à frente do espelho, da foto do chapéu da “Obey” do moço sem educação.
Enfim, com todo o potencial que as redes sociais tinham e têm, provavelmente não somos capazes de retirar o máximo partido delas.
Eu também possuo conta nestas redes sociais, mas não é por publicar 10 fotos por dia, comentar 30 estados e por gosto em tudo o que os meus “desconhecidos amigos” publicam, que me considero socialmente ativo. Considero-me assim porque eu, também, vou à Tasca do Manuel das Tricas contar histórias, debater ideias e beber conhaque com a malta que é meu conhecido amigo.

Mais uma vez perdido nos meus devaneios, voltei a fugir ao ponto central: como seriam as publicações numa rede social de escritores como Luís Vaz de Camões, Eça de Queiroz e José Saramago?
Procederei à sua representação:

Pressuposto hipotético 1: Camões vendo que o seu amigo de bebedeiras e marotices, festejava o seu aniversário naquele dia (cortesia do Facebook) deixa algo deste género no seu mural:

“Amigo de conhaque e de vinhaça
Mil e uma história nós contaremos
Como aquele em que papaste moça
Formosa, igualmente nós lembraremos
Que seu peso Adamastor talvez possa
Só levá-la em braços; nós esconderemos
Todo pormenor ficará no ar
Mesmo aquele de não conseguires andar

Cornélia, tal nome lhe pertencia,
Em seu corpo apetrechos até mais não
Felicidades eternas te daria
Se a distância tanta separação
Levasse, neste dia de alegria
Fazes quarente e oito neste chão
‘Tás a ficar velhote amigo meu
Não te invejo muito, que sigo eu.”
Luís V. Camões



Pressuposto hipotético 2: Eça de Queiroz regressa de uma festa em casa de uns amigos. No meio de tantas fotos, onde o seu monóculo aparecia manchado e rachado e o seu cabelo despenteado, a seguinte descrição é por ele escrita:

“Maria Eduarda, tu, moça mais bela que Selene, cujos olhos recordam uma esplendida tarde de Outono, te enalteço todas as capacidades de anfitriã. Não me esqueço de tão harmoniosa soirée (ainda que algumas coisas pudessem ter passado mais despercebidas) e permite-me que me prolongue: a tua habitação, classicamente decorada deleitou-me. Toda uma combinação de cores, formas e estilos que realçavam bem todo o ambiente acolhedor em que estávamos inseridos. O salão em que nos recebeste e onde toda a panóplia de celebrações se desenvolveu, envolvia-nos com toda a sua fragância e luminosidade quentes. Quem poderia dizer que tal habitação, outrora, estivera rudemente desabitada, com teias d’aranha pelas paredes e cobrindo-se com tons de ruina. Agradece ao “Querido Mudei a Casa”!
Carlos da Maia, meu amigo maroto. Continuas sem dar ouvidos a quem te quer bem e como resultado forçoso de tamanha irresponsabilidade tua e condescendência nossa, voltaste a afinfar em tua irmã. Pobre coitada… Gemeu tanto, ontem à noite! Abre bem as cordas vocais, mas saberás isso melhor do que eu.
Egas já te advertiu que essa brincadeira é mal vista pela sociedade; e o teu avô (melhor vosso) não vai ficar contente quando souber. 
Aconselho uma viagem, para aclarar essas ideias e limpares a mente de toda a maldade por que este mundo é composto. Se fores a Paris, avisa-me. L’Sorbonne tem cursos de Filosofia novos.”

Agradecido pela vossa hospitalidade,
Eça de Queiroz




Pressuposto hipotético 3: José Saramago, pelo regresso de uma viagem onde procedeu à visita de grande parte das catedrais barrocas europeias, deixa nas redes sociais, um conselho a dois grandes amigos seus:

“Blimunda e Baltazar, que falta me fizeram nesta aventura. A Pilar já estava a importunar-me. Dizia que queria ir às compras em vez de visitar aqueles monumentos à vontade humana. Ou à estupidez de tão pequeninos seres.
Aconselho-vos vivamente a visitar. Mas façam-no por vontade própria e não porque tal ação agrade ao Senhor. O que Lhe agrada ou não é problema de Deus, ou seja, d’Ele próprio. Talvez, de vez em quando, se todas as suas atividades divinas o permitirem, se lembre que há uns anitos atrás criou uns seres para habitar a Terra.
De qualquer modo, Blimunda, como andas tu? Certamente Baltazar anda a divertir-se com esse teu quarto olho e tu também! Ou preferes o gancho dele? Indistintamente, quando foi para construir a passarola, ambos deram jeito.”

Um abraço amigo,
José Saramago


Só uma nota: o que foi acima descrito não está de acordo com as minhas crenças religiosas. Sou católico praticante e, ainda que a muita gente sim, não me envergonha ou diminui, de alguma forma, admiti-lo.
Prosseguindo…


Terminado aqui mas antes permitam-me que faça uma ressalva para quem possa ter a enorme quantidade de um milhão de neurónios: Nada do que foi aqui exposto é da autoria de algum destes autores. Se tivesse tido oportunidade ter-lhes-ia perguntado isto pessoalmente. Quem sabe, talvez no céu o faça…se algum deles lá estiver! Ou eu…