sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Reflexões De Sexta À Noite: Como Ser Bom Aluno



A vigília e o sonho pelejam pelo domínio da consciência.
Quando se superioriza a primeira, abrem pela metade as janelas da alma e contemplam o Mondego silencioso, espelho das sombras da vegetação, cuja imagem o luar faz impactar sobre as águas esquecidas do rio.
Voltam a correr-se as persianas e o interior da habitação recata-se dos olhares perscrutadores. Não gosto que a impertinente curiosidade alheia penetre na inconformidade do meu lar, último reduto de segurança do eu.
A claridade começa a incomodar o revolto descanso e o primeiro sol da manhã depõe o seu beijo mais infante na planície mansa e seca de Castela, dando as boas vindas, com a força de um apertado amplexo, a um novo ano.

Ano novo, responsabilidades novas e acrescidas saturam o saco de quem, por pundonor de carácter, faz questão de bem recebê-las; de quem, por experiência, calos e maleitas semelhantes, não rejeita o que o ajudará a crescer; de quem faz por merecer o período de férias de que usufrui que, geralmente, por escasso peca.
A todos quantos viram neste interregno do “suposto” trabalho – considerando nesse leque, obviamente, o estudo – uma simples continuação da carência de atividade, não se incomodem muito mais nos próximos tempos – sei que não o farão; se até aqui não o fizeram muito teria que haver mudado para tamanho importuno intelectual assentar em tão ventoso terreno -, a vida tratará de vos pôr a correr; a menos que queiram ficar sem um pedaço de nádega.

Prosseguimos na nossa reflexão, mas não sem antes realizar um pequeno aviso: “Não me arvoro em especialista de nada. Sei que os próprios especialistas sabem pouco de muito e muito de pouco. O que aqui escrevo deve ser tratado e interpretado como um texto opinativo, um comentário no qual fazemos uso do bom senso e da experiência com a validade que a ciência e a Filosofia nos permitem”.

Evadidas, assim, acusações torpes e fundadas na ignorância que, sem custo algum, alguns indivíduos, neste Portugal de (des)fados, tentam fomentar avanço para a matéria em mãos e, nesta reentre de mais um ano letivo, deixo a minha contribuição, auxílio quiçá, a quem procurar ser um bom aluno e não apenas mais uma cara.



1.    FORÇA DE VONTADE E DETERMINAÇÃO


Ainda que a exposição que faço não esteja ordenada por relevância, o ponto que exploramos agora, no meu modesto e q.b. ponto de vista revela-se um dos mais fundamentais.
É de sublinhar a importância de não confundir determinação com teimosia e obstinação cegas, e até adulterada perseverança, que apenas levarão os seus detentores a bater forte com a cabeça numa parede, completando-se o episódio das possíveis consequências encefálicas, se ainda massa cinzenta saudável houver.
Esta qualidade, excecional tanto pela raridade como em jeito de louvor a quem a desenvolve, não nasce connosco; não é transmitida pelo espermatozoide mais ágil nem pelo oócito mais seletivo, muito menos por alguma cidade ou universidade, por muita história ou magia que o seu ambiente suscite – “Quod natura non dat, Salmantica non præstat”.
É semeada e cresce, se o terreno for fértil. Ainda assim, não deveis temer todos quantos achais que a vossa terra é estéril. Flora desta também encontra sustento nesses solos. Bastará tratá-los com devoção e cuidá-los com paciência. A seu tempo, resultados surgirão.
Como sabemos? O leitor saberá retirar as ilações respetivas.

A força de vontade tem um poder bestial. Dependendo do uso que se lhe queira dar pode-se fazer muita maldade ou criar um verdadeiro céu à face do planeta.
Hitler usou-a para levar a Alemanha a, livremente, elegê-lo como seu governante para depois retirar o Inferno do seu covil e impô-lo na Terra; Mandela utilizou a sua para colocar termo ao Apartheid e à separação racial.
O que considero um bom estudante, realizando uma prática consciente da sua força de vontade, deverá utilizá-la para derrubar o mais pantagruélico obstáculo, superar a mais desmoralizante dificuldade e a atingir a mais inesperada meta.


2.    EDUCAÇÃO E RESPEITO
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Entenda-se educação nas suas duas ramificações principais: estímulos intelectuais e morais proporcionados por progenitores interessados pelo desenvolvimento holístico da sua cria e regras de etiqueta cívica construídas já sobre alicerces probos sustentáveis.
Ambas interatuam e completam-se. Seguramente, o astuto leitor terá já apontado mentalmente a necessária relação.
Se no campo da determinação, as falhas costumam tê-las quem não cultiva esta favorável qualidade, no aspeto da educação, o erro encontra-se na conceção ociosa que têm dela certos papás. Pecado absolvido pela água benta aspergida pelas impreparadas curas de almas da sociedade.
A escola não serve para educar. Retocar, talvez, um pontual detalhe. Porém, o “grosso” da educação tem (chamamos à atenção do verbo utilizado “ter”, que não foi escolhido levianamente e não pode ser substituído por “dever” ou “poder”) de ser dada na atmosfera familiar. Deveria ser um imperativo; tal como as vacinas são administradas num centro de saúde ou hospital e os julgamentos realizados num tribunal.
Cada coisa no seu devido sítio, sem barafunda ou vozes ocas de cabeças em silêncio eterno, donas de um pedestal que não suporta o peso da insipiência.

Pela mão da educação vem o respeito.
Respeito por professores, por funcionários, colegas, amigos e pelo próprio espaço físico da escola.
Resumindo: respeito pela posição de aluno que se ocupa. E só é possível fazê-lo sabendo e pondo em prática as competências de um estudante. Nem todos podem sê-lo e nem todos deviam.


3.    INTELIGÊNCIA E TRABALHO

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Uma delas não é fundamental.
Ajuda? Sim.
Muito? Talvez.
É indispensável? De todo.
O leitor quererá realizar o, em Portugal louvado, exercício de adivinhação ou usará a razão que lhe reconheço para descobrir de qual das duas características descrevemos?
A inteligência, ou falta dela, quantas vezes usada como arma de arremesso para desculpar alguma dificuldade e, se formos honestos, alguma mândria e incapacidade para pospor algum prazer momentâneo e passageiro. Se se apercebessem que, por vezes, cumprindo as obrigações em tempo oportuno aguardariam recompensas que dão mais lenha à chama da realização pessoal.
Mas cada um tem as suas prioridades!
Com o que escrevo não quero dizer que todos estamos dotados com o mesmo tipo de inteligência ou conjunto de capacidades. Se assim fosse, tornar-se-ia o ser humano num animal monótono.
No entanto, se desafio houver que a inteligência não conseguir resolver, poderá ser ele ultrapassado ao utilizar a capacidade de trabalho. Trabalho na medida em que se procura uma solução para um determinado problema.
É, mais ou menos, óbvio que para um estudante, não sabendo como se processa o mecanismo de mitose e meiose, o trabalho traduzir-se-á em mais tempo debruçado sobre o assunto ou melhor qualidade do mesmo dedicado a esse tema.

A reflexão já vai mais longa do que o idealizado originalmente pelo que vou terminando ao deixar uns últimos pensamentos em relação a esta matéria.
A tudo o que enumerei devo acrescentar dois predicados mais: amizade e saber falhar.
Não é bom aluno aquele que atinge o sucesso vendo no rosto amigo a imagem do inimigo e no gesto de auxílio uma investida desleal sobre o seu ego; não é bom aluno aquele que troca a família e os amigos por um mísero valor a mais no bicho-papão da classificação final.
Tampouco pode ser bom aluno aquele que não sabe falhar. Falhar é humano e, a menos que neste planeta existam estudantes fora desta condição, aquela é uma lei universal. Quando se fracassa, a alma dói e o ego…, bem esse morre como Houdini, com um belo murro no estômago quando ainda não estava preparado.
Mas saber falhar, como a sabedoria popular apregoa, é “aprender com os erros”; ou numa formulação intelectualista “o erro detetado, analisado e corrigido é uma das mais poderosas formas de conhecimento”.
Aí tendes a importância de falhar e, sobretudo, de o saber fazer.
Não vale a pena afogarmo-nos em comiseração própria, presos à irrealista ideia de que ainda podemos mudar o que já não está nas nossas mãos.

Temos de seguir em frente, deixar para trás as águas escuras de um rio adormecido que nos virou as costas e aceitar a receção dos primeiros raios de um sol que não se esqueceu de nos sorrir.

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