A vigília e o sonho pelejam
pelo domínio da consciência.
Quando se superioriza a
primeira, abrem pela metade as janelas da alma e contemplam o Mondego
silencioso, espelho das sombras da vegetação, cuja imagem o luar faz impactar
sobre as águas esquecidas do rio.
Voltam a correr-se as
persianas e o interior da habitação recata-se dos olhares perscrutadores. Não
gosto que a impertinente curiosidade alheia penetre na inconformidade do meu
lar, último reduto de segurança do eu.
A claridade começa a incomodar
o revolto descanso e o primeiro sol da manhã depõe o seu beijo mais infante na
planície mansa e seca de Castela, dando as boas vindas, com a força de um
apertado amplexo, a um novo ano.
Ano novo, responsabilidades
novas e acrescidas saturam o saco de quem, por pundonor de carácter, faz
questão de bem recebê-las; de quem, por experiência, calos e maleitas
semelhantes, não rejeita o que o ajudará a crescer; de quem faz por merecer o
período de férias de que usufrui que, geralmente, por escasso peca.
A todos quantos viram neste
interregno do “suposto” trabalho – considerando nesse leque, obviamente, o
estudo – uma simples continuação da carência de atividade, não se incomodem
muito mais nos próximos tempos – sei que não o farão; se até aqui não o fizeram
muito teria que haver mudado para tamanho importuno intelectual assentar em tão
ventoso terreno -, a vida tratará de vos pôr a correr; a menos que queiram
ficar sem um pedaço de nádega.
Prosseguimos na nossa reflexão,
mas não sem antes realizar um pequeno aviso:
“Não me arvoro em especialista de nada. Sei que os próprios especialistas
sabem pouco de muito e muito de pouco. O que aqui escrevo deve ser tratado e
interpretado como um texto opinativo, um comentário no qual fazemos uso do bom
senso e da experiência com a validade que a ciência e a Filosofia nos
permitem”.
Evadidas, assim, acusações
torpes e fundadas na ignorância que, sem custo algum, alguns indivíduos, neste
Portugal de (des)fados, tentam fomentar avanço para a matéria em mãos e, nesta reentre de mais um ano letivo, deixo a
minha contribuição, auxílio quiçá, a quem procurar ser um bom aluno e não
apenas mais uma cara.
1. FORÇA DE VONTADE E DETERMINAÇÃO
Ainda que a exposição que faço
não esteja ordenada por relevância, o ponto que exploramos agora, no meu
modesto e q.b. ponto de vista
revela-se um dos mais fundamentais.
É de sublinhar a importância
de não confundir determinação com teimosia e obstinação cegas, e até adulterada
perseverança, que apenas levarão os seus detentores a bater forte com a cabeça
numa parede, completando-se o episódio das possíveis consequências encefálicas,
se ainda massa cinzenta saudável houver.
Esta qualidade, excecional
tanto pela raridade como em jeito de louvor a quem a desenvolve, não nasce
connosco; não é transmitida pelo espermatozoide mais ágil nem pelo oócito mais
seletivo, muito menos por alguma cidade ou universidade, por muita história ou
magia que o seu ambiente suscite – “Quod
natura non dat, Salmantica non præstat”.
É
semeada e cresce, se o terreno for fértil. Ainda assim, não deveis temer todos
quantos achais que a vossa terra é estéril. Flora desta também encontra
sustento nesses solos. Bastará tratá-los com devoção e cuidá-los
com paciência. A seu tempo, resultados surgirão.
Como sabemos? O leitor saberá
retirar as ilações respetivas.
A força de vontade tem um
poder bestial. Dependendo do uso que se lhe queira dar pode-se fazer muita
maldade ou criar um verdadeiro céu à face do planeta.
Hitler usou-a para levar a
Alemanha a, livremente, elegê-lo como seu governante para depois retirar o
Inferno do seu covil e impô-lo na Terra; Mandela utilizou a sua para colocar
termo ao Apartheid e à separação
racial.
O que considero um bom
estudante, realizando uma prática consciente da sua força de vontade, deverá
utilizá-la para derrubar o mais pantagruélico obstáculo, superar a mais
desmoralizante dificuldade e a atingir a mais inesperada meta.
2. EDUCAÇÃO E RESPEITO
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Entenda-se educação nas suas
duas ramificações principais: estímulos intelectuais e morais proporcionados
por progenitores interessados pelo desenvolvimento holístico da sua cria e
regras de etiqueta cívica construídas já sobre alicerces probos sustentáveis.
Ambas interatuam e
completam-se. Seguramente, o astuto leitor terá já apontado mentalmente a
necessária relação.
Se no campo da determinação,
as falhas costumam tê-las quem não cultiva esta favorável qualidade, no aspeto
da educação, o erro encontra-se na conceção ociosa que têm dela certos papás.
Pecado absolvido pela água benta aspergida pelas impreparadas curas de almas da
sociedade.
A escola não serve para
educar. Retocar, talvez, um pontual detalhe. Porém, o “grosso” da educação tem
(chamamos à atenção do verbo utilizado “ter”, que não foi escolhido
levianamente e não pode ser substituído por “dever” ou “poder”) de ser dada na
atmosfera familiar. Deveria ser um imperativo; tal como as vacinas são administradas
num centro de saúde ou hospital e os julgamentos realizados num tribunal.
Cada coisa no seu devido
sítio, sem barafunda ou vozes ocas de cabeças em silêncio eterno, donas de um
pedestal que não suporta o peso da insipiência.
Pela mão da educação vem o
respeito.
Respeito por professores, por
funcionários, colegas, amigos e pelo próprio espaço físico da escola.
Resumindo: respeito pela
posição de aluno que se ocupa. E só é possível fazê-lo sabendo e pondo em
prática as competências de um estudante. Nem todos podem sê-lo e nem todos
deviam.
3. INTELIGÊNCIA E TRABALHO
Uma delas não é fundamental.
Ajuda? Sim.
Muito? Talvez.
É indispensável? De todo.
O leitor quererá realizar o,
em Portugal louvado, exercício de adivinhação ou usará a razão que lhe
reconheço para descobrir de qual das duas características descrevemos?
A inteligência, ou falta dela,
quantas vezes usada como arma de arremesso para desculpar alguma dificuldade e,
se formos honestos, alguma mândria e incapacidade para pospor algum prazer
momentâneo e passageiro. Se se apercebessem que, por vezes, cumprindo as
obrigações em tempo oportuno aguardariam recompensas que dão mais lenha à chama
da realização pessoal.
Mas cada um tem as suas
prioridades!
Com o que escrevo não quero
dizer que todos estamos dotados com o mesmo tipo de inteligência ou conjunto de
capacidades. Se assim fosse, tornar-se-ia o ser humano num animal monótono.
No entanto, se desafio houver
que a inteligência não conseguir resolver, poderá ser ele ultrapassado ao
utilizar a capacidade de trabalho. Trabalho na medida em que se procura uma solução
para um determinado problema.
É, mais ou menos, óbvio que
para um estudante, não sabendo como se processa o mecanismo de mitose e meiose,
o trabalho traduzir-se-á em mais tempo debruçado sobre o assunto ou melhor
qualidade do mesmo dedicado a esse tema.
A reflexão já vai mais longa
do que o idealizado originalmente pelo que vou terminando ao deixar uns últimos
pensamentos em relação a esta matéria.
A tudo o que enumerei devo
acrescentar dois predicados mais: amizade e saber falhar.
Não é bom aluno aquele que
atinge o sucesso vendo no rosto amigo a imagem do inimigo e no gesto de auxílio
uma investida desleal sobre o seu ego; não é bom aluno aquele que troca a
família e os amigos por um mísero valor a mais no bicho-papão da classificação
final.
Tampouco pode ser bom aluno
aquele que não sabe falhar. Falhar é humano e, a menos que neste planeta
existam estudantes fora desta condição, aquela é uma lei universal. Quando se
fracassa, a alma dói e o ego…, bem esse morre como Houdini, com um belo murro no estômago quando ainda não estava
preparado.
Mas saber falhar, como
a sabedoria popular apregoa, é “aprender com os erros”; ou numa formulação
intelectualista “o erro detetado, analisado e corrigido é uma das mais
poderosas formas de conhecimento”.
Aí tendes a importância de
falhar e, sobretudo, de o saber fazer.
Não vale a pena afogarmo-nos
em comiseração própria, presos à irrealista ideia de que ainda podemos mudar o
que já não está nas nossas mãos.
Temos de seguir em frente,
deixar para trás as águas escuras de um rio adormecido que nos virou as costas
e aceitar a receção dos primeiros raios de um sol que não se esqueceu de nos
sorrir.
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